OPÇÃO
(Alberto Bresciani)
Arquitetos adotam a transparência
como regra e matéria-prima
cobrem as cidades com casas de vidro
quase tudo se sabe
de lado a lado
é livre a visão
do peito rasgado
da luz que se apaga
dois gatos à espera
papilas que exultam
(o verbo esconder resseca
as coordenadas abertas)
há até quem prefira
vender suas vestes
e assim exposto
no ventre da urbana vitrine
apenas estar
em linha reta
outros rezam
pelo final das tempestades
ou pelo tiro na testa
ANIVERSÁRIO
(Alberto Bresciani)
Cinquenta anos não vieram
com astúcia e ciência
Não os convidei
Caminhava
quando me acertaram
Com eles se abriu
imensa folha
de papel em branco
encobrindo
o céu
o Cristo no monte
as horas
E eu
- só –
não sei
BEIJA-FLOR
(Alberto Bresciani)
Dedos cortados sobre a mesa
cinco cactos presos aos pés
Volto os olhos Ainda posso
salto da dor abrindo caixas
Dos escuros e das farpas
liberto tuas asas, tulipas
Linhas claras suturam
fendas ou rompem paredes
O sol no chão no ventre
aprendo a contornar arestas
e caminho sobre os cacos
evitando caracóis em trânsito
− sem armas
às vezes asco
outras lábio
Alberto Bresciani, Servidor público, é poeta, nasceu no Rio de Janeiro, mas vive em Brasília. Autor de diversos livros, prepara seu próximo lançamento pela editora Record.
http://www.saopaulotimes.com.br/sp/poesias-para-sexta-feira-7/
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