FOGO DA POESIA *

Não é fogo de palha é fogo imenso
O fogo que azuleja a poesia;
É qual fogo sagrado que anuncia
O donaire em seu lume mais intenso.

É fogo perenal sempre propenso
A labaredas de supremacia...
É o clarão mais perfeito da magia
Que com a flama da essência faz consenso.

É o fogo impetuoso das lareiras
Aquecendo as visões alvissareiras
Que nos tocam com jeito e sutileza...

É o mistério das messes ancestrais
Que revela o semblante dos graais
Das gemas borbulhantes da beleza!

® RUBENIO MARCELO

* Pelo ‘Dia Nacional da Poesia’ (14 de março), este soneto à Poesia.
Viva sempre a arte poética!... a arte da palavra melódica que brota com naturalidade... sem correntes nem desafios...




NAUS INSONES *

em voltas por mares revoltos
desenvoltas naus
resguardam o coito das correntezas
que segredam dádivas essenciais
e revolvem artifícios indormidos
nas barbas grisalhas do tempo...

velas excitadas
brancas
altivas
velozes
jamais se cansam...
desvelam ilhas
revelam castelos
afagam as monções
e são afagadas
pelas retinas da comandância...

naus solidárias
abrigam escaleres 
recolhem náufragos 
e espasmos pagãos...

naus legendárias
insones
atentas às leis naturais
pressentem baixios e horizontes opacos
esquadrinham as mobílias da paisagem
rescindem hesitações
contornam estorvos
e lecionam nortes
aos que grasnam indolências...

nestas naus
os emissários não ostentam superficialidades 
[nem bandeiras retorcidas]
e sim alvíssimas insígnias...
os nautas
mapeiam tesouros invisíveis
e instintivos cristais 
que projetam inervações da beleza
nas esferas do eterno...

____________________ ® Rubenio Marcelo

* poema inédito do nosso novo livro “Veleiros da Essência”, que será lançado oficialmente na próxima noite de 29/abril (no belíssimo Auditório do CREA-MS, Campo Grande).
RM


ABRIGO

apenas quero que me deixes
[em tua tenda branca]
clarear a visão
para levar o graveto caído do bico do pássaro
ao ninho do destino.

quero apenas
saciar o cio da minha sede
no filete indiferente
que azuleja a fonte
e revela o refúgio seguro das pedras...

apenas quero que me olhes
com retinas em partituras de pardais
para que eu me redima
dos passos escassos de horizontes...

quero apenas que me acolhas

que recolhas
as partilhas e contestações
e que me tenhas
em tuas senhas...

apenas
a chama da intuição
– a despretensão
de suscitar o fascínio
e o autossacrifício do silêncio

apenas
sentir-te sem finitudes
e
encontrar-me...

apenas
quero o sol do teu abrigo,
poema meu!

® Rubenio Marcelo



TRANSVELEJAR...

ávidas de sagas e renovações
transvelejando o tempo
vão as naus cortando horizontes...

nelas
a marinhagem não se cansa:
renova-se com prelúdios de violinos
e minuetos noturnos 
vindos das torres estelares 
que
a bombordo e estibordo
balizam a suavidade das jornadas...

lemes, velas, estais,
leves púlpitos de popas e proas,
tudo 
a barlavento ou sotavento
flutua – e faz flutuar – azul
nestas naus viajoras
[que transcendem os mitos 
e os hemisférios cotidianos]
ostentando o pavilhão da primazia...
– naus visionárias
planadoras
de mares e ares...

mesmo secular,
não há rotina no trilar das sete salvas...
a continência é da alma
– e esta é flama invicta,
é albatroz diligente:
reinaugura-se a cada soar da lira!...

grávidas de misteres e revelações
transnavegando na quintessência do inefável
seguem as naus eternizando messes...

® Rubenio Marcelo
– poema do nosso novo livro [inédito] “Veleiros da Essência”, que será lançado brevemente. Dedico, nesta ocasião, com meu abraço fraterno, a todos ‘velejadores da poesia’.


0 comentários:

Postar um comentário