Em 1994, Kenzaburō Ōe ganhou o prêmio Nobel de literatura. Segundo os jurados, suacapacidade de criar um retrato da condição humana misturando a vida ao mito em um universo fantástico foi o fator fundamental na hora de honrá-lo com a medalha.
A nossa Frase da Semana surgiu em uma entrevista que o escritor japonês cedeu em 1999, quando perguntado sobre como aconselharia jovens aspirantes a escritores. Além de responder à pergunta, Kenzaburō fez uma reflexão sobre a juventude em geral e sobre o que aprendeu com seu filho. Hikari Ōe tem problemas de desenvolvimento mental e visual e, por muito tempo, seus pais acharam que ele nunca se comunicaria.
O autismo do filho foi uma das grandes motivações de Kenzaburō ao escrever seus romances, pois ele acreditava que dava voz a Hikari por meio de suas palavras. Não é coincidência, então, que muitos de seus personagens sejam jovens baseados em seu filho. Mesmo assim, filho de peixe, peixinho é e Hikari encontrou um jeito brilhante de se expressar e comunicar: a música.Você pode encontrar suas composições para piano no YouTube e nas lojas de CDs.
A história de Kenzaburō e seu filho prova que mesmo na adversidade surgem oportunidades e descobertas incríveis.
Virginia Woolf viveu Londres na primeira metade do século XX, onde foi uma das figuras mais importantes da nova literatura que emergia após a primeira guerra. Parte de um grupo de intelectuais, Virginia foi fundamental no desenvolvimento do modernismo na escrita, tanto como escritora quanto como editora. A crítica literária também captou a atenção de Virgínia, que se dedicou ao estudo de obras de alguns de seus contemporâneos.
Em suas obras, é marcante a presença do fluxo de consciência, um recurso literário que mostra os caminhos (às vezes, sem volta) do pensamento do personagem. Suas personagens femininas tinham personalidades fortes, como é o caso da Sra. Dalloway, personagem-título de um dos livros mais famosos da autora.
Assim como muitos gênios das artes, Virgínia tinha problemas psicológicos, que frequentemente resultavam em crises nervosas. Em um desses momentos, a escritora perdeu o controle e se atirou em um rio com os bolsos do casaco cheios de pedras. Seu corpo só foi encontrado quase um mês depois.
A frase da semana foi dita em uma palestra proferida por Virgínia e deixa claro o caráter marcante da escritora. Para saber mais, o filme As Horas, com Nicole Kidman, é uma boa introdução à mente peculiar de Virgínia.
Honoré de Balzac foi um dos escritores responsáveis pela criação do Realismo na literatura. Sua obra “A Comédia Humana“, dividida em quase uma centena de romances, é um retrato bastante fiel da sociedade burguesa da França na época napoleônica.
A nossa Frase da Semana saiu de um desses romances, “A Mulher de Trinta Anos“. Na obra, o autor descreve, em seis partes, uma faixa etária específica do gênero feminino e seus conflitos e conquistas na decorrência da ascensão da burguesia.
Uma dessas problematizações é justamente a maternidade. Afinal, a mulher começava a conquistar liberdades inéditas, mas ainda tinha o dever de cuidar da casa e dos filhos.
Apesar de ter sido escrito no século XIX, esse debate ainda é atual e a obra marcou tanto a sociedade ocidental que até hoje é comum ouvir as pessoas falando das “balzaquianas”, ou seja, as mulheres na faixa dos trinta anos.
Ascensão da burguesia à parte, uma coisa é certa: mãe realmente perdoa tudo que o filho faz, ou quase tudo, e isso não muda não importa o século em que a gente esteja.
Cecília Meireles é considerada por muitos uma das maiores poetas da língua portuguesa. Embora tenha escrito sua obra em um período de explosão do Modernismo – o primeiro livro, “Espectros“, saiu quando ela tinha apenas 18 anos em 1919 -, Cecília misturava várias influências em seus versos. A primeira publicação, por exemplo, é bastante ligada ao Simbolismo do século anterior. Já “Romanceiro da Inconfidência“, obra inspirada na Inconfidência Mineira e de onde saiu a nossa Frase da Semana, segue um gênero de poesia popular, tradicionalmente ibérico, conhecido como romanceiro. É também uma das obras principais da autora que, apesar de carioca descendente de açorianos, tinha um espírito que abrangia o Brasil inteiro.
Além da obra poética, que inclui diversos poemas infantis com musicalidade ímpar, Cecília atuou como jornalista, especialmente na área da educação. É dela, aliás, o crédito pela implementação da primeira biblioteca infantil no país, localizada no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro. Com arquitetura e decoração inspirados pelo livro “As Mil e Uma Noites”, o refúgio literário de Cecília durou apenas 4 anos, mas foi um marco do movimento pela alfabetização infantil.
Mas nem tudo era mágico na vida da escritora. Seu marido, um artista plástico, cometeu suicídio em 1935 e a deixou com 3 filhas. Ela se casou novamente, em 1940, com um engenheiro, mas não teve mais filhos. Quando mais velha, na década de 1950, Cecília se lançou em um longa viagem que abrangeu Europa e Ásia, visitando as colônias portuguesas e, pela primeira vez, a terra de seus antepassados: a ilha de São Miguel, nos Açores.
Após sua morte, a escritora foi homenageada com o Prêmio Machado de Assis, teve uma escola batizada com seu nome nos Açores e o Banco Central do Brasil imprimiu notas com sua efígie.
O escritor Carlos Drummond de Andrade faria 110 anos no último dia 31 de outubro. Apesar de ser famoso e reconhecido por suas poesias – quem presta vestibular conhece bem “A Rosa do Povo” e seus poemas de cunho social -, Drummond também se arriscou em outros gêneros literários.
Um desses desvios é o livro “O Avesso das Coisas”, em que o mineiro de Itabira cria uma espécie de dicionário. Só que, em vez de dar o significado das palavras, cada verbete as explica com aforismos.
E é dessa experiência que saiu nossa Frase da Semana. Especificamente sob o nome “felicidade”. Mestre das palavras, o modernista sempre conseguia transmitir muito dizendo pouco e é exatamente isso que vemos nas pequenas frases d’O Avesso e em todas as suas obras. Longe de usar palavras rebuscadas e metáforas hiperbólicas, Drummond tem apelo tanto às classes eruditas quanto ao povo, o que faz dele um autor bastante admirado.
O mundo está passando por tempos de protestos contra e a favor de leis relacionadas ao aborto, ao casamento gay, a prostituição e a outros assuntos polêmicos. Isso porque muitos países discutem a reformulação de suas constituições para abarcar o surgimento de direitos cada vez mais iguais entre todos os homens e mulheres.
É provável que Charles de Montesquieu nem imaginasse que um dia esses debates aconteceriam, mas no livro O Espírito das Leis, de 1748, o político e filósofo francês registrou teorias sobre a política e os sistemas de governo que cabem muito bem no contexto atual. Seus pensamentos, aliás, foram fundamentais para a criação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento-símbolo da Revolução Francesa de 1789. Montesquieu foi, também, pai da teoria da separação do Estado em três poderes que é usada ainda hoje em muitos países, inclusive no Brasil. Ou seja, ele não era pouca coisa.
Curiosamente, Montesquieu era nobre – barão, para ser mais exato -, mas isso não o impediu de criticar e satirizar a monarquia e o clero. Seu círculo de amizades incluía um pessoal bem distante da corte, como escritores e pensadores avessos às tradições em vigor: ele participou da Enciclopédia de Diderot e D’Alembert, por exemplo.
Quando morreu, em 1755, o iluminista tinha uma longa lista de obras que abordavam desde a fisiologia humana ao movimento das marés. Praticamente uma enciclopédia humana.
A frase aí de cima poderia ter sido dita por um grande filósofo ou, até, por um líder pacifista. Mas, como você já viu, ela é obra do Rei, sim, de Elvis Presley. Isso não quer dizer que ela não tenha sido registrada em um contexto espiritual: Elvis escreveu essas palavras na sua Bíblia particular, que havia ganhado de seus tios em 1956.
Como muitos dos grandes músicos do rock, Elvis foi bastante influenciado pela música gospel e pelos cânticos cristãos e sua família também era bastante ligada à religião. Só que, como a gente sabe, não foi esse caminho que Elvis The Pelvis seguiu. Com suas dancinhas sensuais – para a época, né -, o garoto de Memphis fazia as garotas suspirarem e desmaiarem.
É praticamente impossível falar de ficção científica sem mencionar o autor russo naturalizado americano Isaac Asimov. Se você já viu o filme Eu, Robô, com Will Smith no papel principal, por exemplo, saiba que a história é baseada em um livro dele, parte da trilogia Robôs.
Mas não só foi só ficção que Asimov produziu. Como bioquímico e aficionado por astronomia, ele chegou a escrever 30 livros de apelo popular sobre os grandes mistérios. Somando a isso algumas dezenas de romances e obras de ficção científica, dá pra ver que o escritor não parava quieto.
Outra coisa que foi constante na vida de Asimov – assim como na de muitos cientistas – é o questionamento da existência de Deus. Ou nem isso, já que, como você leu acima, ele realmente acreditava que não há uma força superior. A frase, aliás, saiu de uma entrevista para a revista Free Inquiry, em 1982, em que os temas tratados eram Deus e a ciência.
Um outro fato marcante da vida de Asimov envolve sua saúde. Embora tenha morrido por falência dos rins e do coração, a grande doença que o afligia nos últimos anos de vida foi a AIDS, que ele contraiu em uma transfusão de sangue.
Quem acompanha a SUPER já sabe que Carl Sagan foi um dos maiores nomes da astronomia que o mundo já conheceu. Seus estudos abrangeram desde a astrofísica até a astrobiologia. Mas isso não quer dizer que ele era um desses gênios antissociais e reclusos. O astrônomo pop foi um dos responsáveis por colocar a ciência na boca do povo. Tipo o Sheldon Cooper. Só que de verdade.
Grande parte desse fenômeno veio com sua obra de ficção científica e, mais ainda, com Contato, lançado em 1985. O livro foi tão bem-sucedido que acabou indo para as telonas de Hollywood em 1997, com Jodie Foster no papel principal. O único porém é que Sagan não viveu para ver o filme: ele morreu em 1996. A frase da semana, aliás, saiu desse livro.
O autor e cientista deixou um legado fenomenal. Ele foi, por exemplo, professor de astronomia na Universidade de Cornell, em Nova York por muitos anos e também participou do programa espacial da NASA desde a década de 50, como consultor.
Em plena ascensão nazista, ser um pensador de esquerda na Alemanha não era a posição mais confortável do mundo. Se você fosse uma mulher de origem judaica, então, era mais complicado ainda. Foram esses obstáculos que Hannah Arendt enfrentou quando começou sua vida acadêmica, em 1924.
Em seus anos na Universidade de Marburg, Hannah conheceu um outro grande nome da Academia alemã: Martin Heidegger, que era seu professor. No entanto, ela concluiu seus estudos em filosofia na Universidade de Heidelberg. Sua primeira tese foi publicada em 1929 e falava sobre um tema ainda pouco politizado: o amor.
Já em 1933, quando o nazismo de Hitler começou a ganhar poder na Alemanha, Hannah mudou-se para Paris e teve contato com outro importante intelectual: Walter Benjamin. Na França, Hannah trabalhou como secretária e na preparação de jovens que iriam para os kibutz, Em 1941, o governo de Vichy, que apoiava o expansionismo nazista, a enviou para o campo de concentração em Gurs, para, eventualmente, deportá-la. Ela conseguiu escapar e fugiu para Nova York, dando início ao período mais frutífero de sua vida acadêmica.
Nos Estados Unidos, Hannah publicou obras sobre os regimes totalitários e sobre a perseguição nazista ao povo judeu. Um de seus textos mais famosos é “Eichmann de Jerusalém”, em que ela conclui que Adolf Eichmann, o grande responsável pela máquina de exterminação dos campos de concentração, não era um homem mau: ele era incapaz de um pensamento próprio que desafiasse ordens superiores. Nos EUA, ela também lecionou em universidades de prestígio, como Princeton e Berkeley.
É importante ressaltar que Hannah, embora filósofa de formação, renunciava a essa denominação porque, segundo ela, a filosofia fala “do homem” e ela falava “dos homens”. É dessa explicação que saiu a nossa frase da semana. Por causa de suas teses contrárias aos regimes opressores, seu posicionamento contra a Guerra do Vietnã e a favor da desobediência civil, Hannah Arendt é até hoje conhecida como “a pensadora da liberdade” e lutou por essa causa até sua morte, em 1975.
Entre tantos poemas e heterônimos, é complicado escolher apenas uma frase icônica de Fernando Pessoa. Optamos por esta que você acabou de ler, não só porque ela é uma das mais famosas, mas porque representa bem um dos mais aclamados autores de língua portuguesa. Extraídos do poema “Mar Português”, os versos podem ser interpretados no seu sentido restrito – ou seja, da expansão marítima lusitana – ou no mais abrangente, que você vai ver aqui.
Você já deve ter ouvido falar que o lisboeta poderia ser chamado de Fernando Pessoas. Seus heterônimos mais famosos – e que são cobrados no vestibular – são Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo Soares e Ricardo Reis. Mas não foram os únicos. No poema “Passagem das Horas”, de Álvaro de Campos, surge uma explicação para essa esquizofrenia literária:
“Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.”
Curiosidade: apesar de ser um mestre da Língua Portuguesa, Pessoa foi alfabetizado em inglês, na África do Sul. Inclusive, três das quatro obras que ele publicou em vida são anglófonas. Ainda em Durban, Pessoa tentou ingressar na Universidade do Cabo da Boa Esperança, mas não deu muito certo – quem diria! -, a não ser por seu ensaio, que recebeu até uma medalha de tão bom que era. Mas, quando voltou a Lisboa, em 1905, Pessoa matriculou-se no curso de Letras, que abandonou antes do fim do primeiro ano.
Alternando trabalhos de tradução, crítica e edição, Pessoa conseguiu se manter financeiramente e cultivar o hábito de escrever. Foi assim até sua morte, em 1935. Literalmente, aliás. Dizem que ele escreveu na cama do hospital a frase “I know not what tomorrow will bring” (Não sei o que o amanhã trará).
Assim como os navegadores portugueses, Pessoa acreditava que se arriscar é viver. Por isso, mesmo que as coisas deem errado, elas valem a pena.
Heitor Villa-Lobos é provavelmente o maior compositor erudito que já surgiu no país e se destaca também na música internacional. Aqui no Brasil, Villa-Lobos fez parte do Movimento Modernista e se transformou num grande símbolo da arte ‘verdadeiramente brasileira’, como ele mesmo dizia. Ele, inclusive, apresentou algumas composições na famosa Semana de Arte Moderna de 22, que ocupou o Teatro Municipal, em São Paulo.
Apesar de ter feito composições no estilo europeu, o que o consolidou como gênio foram suas obras com cara de Brasil, destinadas a orquestras, conjuntos de câmara, óperas ou piano. Quase todas, aliás, levaram títulos bem típicos, como Amazonas, Uirapuru e Saudades das Selvas Brasileiras.
Com sua arte, Villa-Lobos pretendia exaltar a cultura brasileira que ele acreditava ser ímpar e inimitável. Naquela época, como a gente bem sabe, essa corrente em busca da identidade brasileira estava na moda. Não é à toa que o compositor proferiu nossa frase da semana.
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