Pensemos nas diferenças entre denotação e conotação e em como o texto literário é bem diferente do texto não-literário. São exercícios assim que caem, muitas vezes, no Enem, mas lá na forma de questões de múltipla escolha.
Vamos a eles então.
1. José Saramago - o primeiro escritor da língua portuguesa a receber o prémio Nobel de Literatura (1998) - insere ao longo do romance Memorial do convento (1983) uma série de provérbios, alguns dos quais vêm reproduzidos a seguir. Leia-os e interprete de forma concisa o significado de cada um:
a. “Pela casca não se conhece o fruto, se lhe não tivermos metido o dente”
R.: É pela experiência direta é que se conhecem as coisas.
b. "Se o pão fosse comido pelos que o semeiam, o mundo seria outro”
R.: Se quem fizesse alguma coisa fosse quem a consumisse, a história seria outra.
c. "O mundo de cada um é os olhos que tem."
R.: A realidade de cada um é o que cada um enxerga.
d. "Um homem, se tem filhos, também se alimenta de ver a cara deles."
R.: Nem só de pão vive o homem: vive também de afetos.
e. "Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas."
R.: O mundo é claro, direto. O ser humano é que o complica.
2. Certa vez, um vilão de telenovela foi agredido no supermercado por uma telespectadora. Que tipo de confusão pode ter ocorrido?
R.: A telespectadora confundiu ficção e realidade. Confusão que pode ser de ordem emocional.
3. Compare as duas situações e explique a diferença no uso dos símbolos:
I) Alguém sai de casa mascarado.
II) Alguém vai mascarado ao carnaval.
R.: No primeiro caso, cria-se a confusão de identidade, ou até mesmo um pequeno escândalo, ou até a dimensão lúdica está sendo utilizada num contexto em que ela não é permitida. No segundo, tratando-se de carnaval, são respeitadas as regras do jogo social, e não há o que estranhar.
Texto para os próximos exercícios
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho.
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.
4. Aponte as diferenças de significado no signo "pedra".
R.: Isoladamente, "pedra" é matéria mineral, dura, sólida;essa é sua denotação. Mas, no contexto, dá uma ideia ou conotação de "empecilho", "obstáculo", "encruzilhada", como que a luta da consciência para chegar a seus objetivos.
5. Qual o papel da repetição no primeiro movimento do poema?
R.: No primeiro movimento (1ª estrofe), tudo que é repetitivo visa a ressaltar o efeito anestésico da rotina, mas é exatamente este pequeno escândalo que nos alerta para os perigos de nossa própria acomodação.
6. Explique os dois versos: "Nunca me esquecerei desse acontecimento/ na vida de minhas retinas tão fatigadas".
R.: Tais versos quebram a repetição; eles são a chave do poema e instauram a epifania: o ser humano desperta do sonambulismo e abre os olhos para a vida.
7. Leia o texto a seguir e assinale com X as afirmações que lhe parecem corretas.
Nuvens
Meu pai e minha mãe conservavam-se grandes, temerosos, incógnitos. Revejo pedaços deles, rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem lábios, mãos grossas e calosas, finas e leves, transparentes. Ouço pancadas, tiros, pragas, tilintar de esporas, batecuns de sapatões no tijolo gasto. Retalhos e sons dispersavam-se. Medo. Foi o medo que me orientou nos primeiros anos, pavor.
Depois as mãos finas se afastaram das grossas, lentamente se delinearam dois seres que me impuseram obediência e respeito. Habituei-me a essas mãos, cheguei a gostar delas. Nunca as finas me trataram bem, mas às vezes se molhavam de lágrimas - e os meus receios esmoreciam. As grossas, muito rudes, abrandavam em certos momentos. O vozeirão que as comandava perdia a aspereza, um riso cavernoso estrondava - e os perigos de toda espécie fugiam, deixavam em sossego os viventes miúdos: alguns cachorros, um casal de moleques, duas meninas e eu.
Graciliano Ramos. Infância.
a. A linguagem é predominantemente técnica, pois não se verifica nela a função poética.
b. O texto, em prosa científica, destina-se apenas à razão do leitor.
c. O texto possui linguagem polissêmica, diversidade de sentidos, o que caracteriza, portanto, um caso de Literatura.
d. O texto não é literário, sua linguagem é linear, sem intenção artística.
e. Trata-se de prosa literária, pois produz uma realidade simbólica que leva o leitor a se afastar do cotidiano para apreender o mundo de maneira mais rica e profunda.
R.: Estão corretas apenas as letras C e E.
http://www.analisedetextos.com.br/2014/05/exercicios-sobre-texto-literario.html
0 comentários:
Postar um comentário