A Cotovia
Era uma vez um velho eremita que morava
numa floresta com apenas um companheiro, um pássaro chamado cotovia.
Um dia dois mensageiros foram procurar o
velho eremita para pedir-lhe que os acompanhasse ao palácio de seu amo, que
estava gravemente enfermo.
O velho, seguido pela cotovia, partiu com
os mensageiros e fizeram-no entrar imediatamente no quarto do homem doente.
Quatro médicos balançavam a cabeça, fazendo comentários em voz baixa entre si.
__Não ha mais nada a fazer, murmurou o
que parecia ser o mais importante-Infelizmente ele está morrendo.
O velho eremita em pé junto à porta,
observava a cotovia, que pousara no peitoril da janela e olhava fixamente para
o doente.
__Ele vai viver, disse o eremita.
__ Mas como pode este camponês fazer uma
afirmação dessas? - Exclamaram os médicos em coro.
O doente abriu os olhos, viu a cotovia
olhando-o fixamente e esboçou um sorriso. Pouco a pouco a cor foi voltando ao
seu rosto, suas forças retornaram e, para assombro de todos os presentes disse:
__ Estou me sentindo um pouco melhor.
Tempos depois, o nobre do palácio,
totalmente recuperado, foi à floresta para agradecer ao eremita.
__Não agradeça a mim,
disse o eremita. -Foi o pássaro quem o curou. A cotovia, acrescentou ele, é um pássaro
muito sensível. Ao ser colocada junto a uma pessoa doente, se ela virar a
cabeça e não olhar para o doente, isso significa que não há esperança. Mas se
olhar para o doente, como olhou para o senhor, quer dizer que o paciente não
vai morrer. Na realidade a cotovia, através do olhar ajuda a recuperação.
Assim como a sensível
cotovia, o amor da virtude não olha para coisas vis, sombrias, mas procura tudo
o que é nobre e honrado. O pássaro habita o bosque florido, e a virtude habita
o coração nobre.
Leonardo da Vinci
A
Figueira
Era uma vez uma figueira
que não dava frutos. Todos passavam por ela sem olhá-la.
Durante a primavera as
folhas cresciam, mas quando chegava o verão, e as outras árvores estavam
carregadas de frutos, nada aparecia em seus galhos.
__ Eu gostaria tanto que
me apreciassem! - suspirou a figueira - queria só produzir frutos como as
outras árvores!
Tentou e tornou a tentar
até que, em certo verão, viu-se carregada de figos. O Sol fez os figos
crescerem e incharem, tornando-os doces e perfumados.
Todos repararam nisso.
Jamais alguém tinha visto uma figueira tão carregada de frutos. E imediatamente
houve uma correria para ver quem colhia mais figos. Subiram pelo tronco.
Curvaram os galhos mais altos com varas compridas e o peso das pessoas fez com
que alguns ramos ficassem partidos. Todos tentavam roubar os deliciosos figos,
e em breve a pobre figueira viu-se toda torta e quebrada.
Moral da Estória:
Portanto, àqueles que
querem chamar a atenção pode acontecer, para sua desgraça, receberem mais do
que desejam.
Leonardo da Vinci
A
Formiga e o Grão de Trigo
Um grão de trigo, deixado
sozinho no campo após a colheita, esperava pela chuva a fim de esconder-se
novamente sob a terra.
Uma formiga viu o grão,
colocou-o nas costas e partiu penosamente em direção ao distante formigueiro.
À medida que andava, o
grão de trigo parecia pesar cada vez mais sobres suas costas cansadas.
__ Por que você não me
deixa aqui? - perguntou-lhe o grão de trigo.
A formiga respondeu:
__ Se eu deixar você para
trás, podemos não ter provisões para o inverno. Em nosso formigueiro há muitas
formigas e cada um de nós deve levar para o celeiro todo o alimento que
encontrar.
__ Mas eu não fui feito só
para ser comido - objetou o grão de trigo - sou uma semente, cheia de vida, e
meu destino é dar origem a uma planta. Ouça, cara formiga, vamos fazer um
pacto.
A formiga, contente por
poder descansar um pouco, colocou o grão de trigo no chão e perguntou:
__ Que pacto?
__ Se você me deixar aqui
no campo - respondeu o grão de trigo - em vez de me levar para o formigueiro,
eu darei a você, daqui a um ano, cem grãos de trigo exatamente iguais a mim.
A formiga olhou para o
grão de trigo com ar incrédulo.
__Sim, cara formiga. Creia
no que estou lhe dizendo. Se você desistir de mim agora eu lhe darei cem de
mim, cem grãos de trigo para o seu celeiro.
A formiga pensou:
__Cem grãos em troca de um
só... Mas isso é um milagre!
__ E como é que você vai
fazer isso? - perguntou ela.
__ Isso é um mistério -
respondeu o grão de trigo - é o mistério da vida. Cave um buraquinho,
enterre-me dentro dele e volte dentro de um ano.
No ano seguinte a formiga
voltou. O grão de trigo transformara-se numa nova planta carregada de sementes,
cumprindo, portanto, sua promessa.
Leonardo da Vinci
A
Lagarta
Imóvel sobre uma folha, a
lagarta olhou em torno e viu todos os insetos em contínua movimentação. Alguns
cantando, outros saltando, outros ainda correndo e voando. Pobre criatura, era
a única que não tinha voz e que não sabia nem correr nem voar.
Com grande esforçou
começou a mover-se, mas tão lentamente que quando passou de um folha para outra
sentiu-se como se tivesse dado a volta ao mundo.
No entanto não tinha
inveja de ninguém. Sabia que era uma lagarta e que as lagartas precisam
aprender a tecer finos fios, com grande habilidade, até construírem uma casinha
para si mesmas.
E então pôs-se a
trabalhar.
Dentro em breve a lagarta
estava envolvida num macio casulo de seda, separada de todo o resto do mundo.
__ E agora? - pensou ela.
__ Agora espere -
respondeu uma voz - tenha um pouco de paciência e você verá.
Quando chegou o momento a
lagarta acordou, e não era mais uma lagarta. Saiu do casulo com duas lindas
asas brilhantes e coloridas, e imediatamente voou bem alto no céu.
Leonardo da Vinci
A
Leoa
Os caçadores, armados com
espadas e afiadas lanças, aproximaram-se em silêncio. A leoa, amamentando os
filhotes, farejou-os e percebeu o perigo.
Porém era tarde. Os
caçadores estavam ali, prontos para atacar.
À vista das armas, a leoa,
aterrorizada, quase fugiu correndo. Mas se fizesse isso deixaria seus filhotes
à mercê dos caçadores. Resolveu defender seus filhos. Baixou os olhos, a fim de
não ver as ameaçadoras espadas de ferro que enchiam de medo seu coração, e,
tomando um impulso desesperado, saltou para o meio dos caçadores.
Sua grande coragem
salvou-a.
Leonardo da Vinci
A
Língua e os Dentes
Era uma vez um menino que tinha o mau
hábito de falar mais que o necessário.
__ Que língua! -
suspiraram os dentes certo dia - nunca fica parada, nunca sossega!
__ Por que é que vocês
estão resmungando? - perguntou a língua em tom arrogante - Vocês, os dentes,
são meros escravos, e seu trabalho resume-se em mastigar o que eu decidir. Não
temos nada em comum, e não permitirei que vocês se metam em meus negócios.
E então o menino continuou
falando, algumas vezes de maneira imprópria, e sua língua sentia-se muito
feliz, aprendendo novas palavras a cada dia.
Porém um dia o menino
comportou-se mal e permitiu à sua língua contar uma grande mentira. Os dentes
obedeceram ao coração, fecharam-se e morderam a língua.
A partir desse dia a
língua tornou-se tímida e prudente, e passou a pensar duas vezes antes de
falar.
Leonardo da Vinci
A
Navalha
Era uma vez uma navalha de
excelente qualidade, que morava numa barbearia. Um dia em que a loja estava
vazia ela resolveu dar uma voltinha. Soltou-se do cabo e saiu para apreciar o
lindo dia de primavera.
Quando a navalha viu o
reflexo do Sol em si mesma, ficou surpresa e encantada. A lâmina de aço lançava
uma luz tão brilhante que, subitamente, com excessivo orgulho, a navalha disse
a si mesma:
__ E eu vou voltar para
aquela loja de onde acabei de fugir? É claro que não! Os deuses não podem
querer que uma beleza tal como a minha seja desonrada desta maneira. Seria
loucura ficar aqui cortando as barbas ensaboadas daqueles camponeses, repetindo
sem cessar a mesma tarefa mecânica! Será que minha beleza foi realmente feita
para um trabalho desses? Certamente não! Vou esconder-me num local secreto e
passar o resto da vida em paz.
E em seguida foi procura
um esconderijo onde ninguém a visse.
Passaram-se meses. Um dia
a navalha teve vontade de respirar ar fresco. Saiu cautelosamente de seu
refúgio e olhou para si mesma. Ai, que
acontecera? A lâmina estava horrorosa, parecendo uma serra enferrujada, e não
refletia mais a luz do Sol.
A navalha ficou muito
arrependida pelo que havia feito, e lamentou amargamente a irreparável perda,
dizendo:
__ Oh, como teria sido
melhor se eu tivesse conservado em forma a minha linda lâmina, cortando barbas
ensaboadas! Minha superfície teria permanecido brilhante e minha borda afiada!
Agora aqui estou eu, toda corroída e coberta de uma horrível ferrugem! E não há
nada a fazer!
Moral da Estória:
O triste fim da navalha é
o mesmo que sucede às pessoas inteligentes que preferem ser preguiçosas a usar
seus talentos. Essas pessoas, assim como a navalha, perdem o brilho e a parta
afiada de seu intelecto, sendo logo corroídas pela ferrugem da ignorância.
Leonardo da Vinci
0 comentários:
Postar um comentário