Tudo deserto.
Alguém sozinha
na noite
no frio
procurando os berços
que já não cabem os meninos.
Eles cresceram tanto
que já não cabem nos berços.
Outras crianças virão?
Já não se precisa de berços?
Onde estão as criancinhas?
Indesejáveis, por aí...
nas creches.
Há um guerreiro caído.
Há cem guerreiros caídos.
Milhares de guerreiros em fuga.
A terra dura contaminada.
Os trigais perdidos.
O pão queimado,
Esquecido no forno.
A erva está envenenada.
As fontes poluídas.
Não há mais verdes,
nem heróis nem nada.
Os ventres estão infecundos.
Os lares abandonados.
As trompas foram silenciadas.
Filhos... pílulas.
Terror. Terroristas.
Violência. Violentos.
Assaltos. Assaltantes.
Sequestros. Sequestradores.
Drogados...
Onde estão eles?
Um estrondo abala a terra.
A última bomba?
Não, a explosão demográfica.
Faz medo na vastidão
rarefeita
de oito milhões
de quilômetros quadrados.
Talvez na manhã do amanhã
um óbice à rapinagem.
... e disse o Criador:
Crescei e multiplicai-vos.
Enchei a terra
até os seus confins.
Veio Malthus:
Limitai os filhos.
Planejai a família
como qualquer empresa.
Haverá mais bocas
para comer
do que abastos para ser comido.
A retaguarda é grande
e os condutores incertos
dentro de oito milhões
de quilômetros vazios.
O vale da vida
está ressecado.
As trompas obstruídas.
A semente infértil
no campo árido.
O lar superado.
As mulheres desligadas.
Filhos, por acaso, clandestinos
forçarão barreiras,
múltiplos obstáculos.
Toda gestação será de risco.
Limitações sofisticadas.
A mulher, não mãe, maternidade.
Operária. Funcionária.
Gerente gerenciando,
computando perdas e ganhos
alheios,
igualando, superando,
vitoriosas, tumultuadas.
A neurose que vai se alargando.
Mestres mestreiam as mães
a se negarem aos filhos.
Esterilizam as fontes geratrizes.
Estimulam o Eros.
Sofismam. Virgindade,
família - anacronismos.
Os antigos valores descartados.
O medo coletivo de ser quadrado.
O vale da vida
será ressecado.
Subdesenvolvidos.
Subnutridos
Subalimentados.
Submissos.
Subversivos.
Sub. Sub. Sub.
Um estrondo abala a terra.
A última bomba?
Ainda não.
A explosão demográfica.
©CORA CORALINA
In Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais, 1965
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