O CEGO E O DINHEIRO ENTERRADO
Luís da Câmara Cascudo

    Um cego, muito econômico, guardava suas moedas em casa e, temendo os ladrões, resolveu esconder seu tesouro no quintal. Cavou um buraco ao pé de uma árvore, debaixo da raiz, e deixou seu dinheiro bem disfarçado.
    Sucedeu que um vizinho seu, vendo-o ir tão cedo para o fundo do quintal, acompanhou-o, descobrindo o segredo. Quando anoiteceu, voltou à árvore e furtou todo o dinheiro que o cego enterrava.
    Pela manhã, o dono veio tateando, e verificou ter sido roubado. Como não resolvia chorar ou queixar-se, fingiu não ter sido visitado pelo ladrão e começou a pensar em uma forma de readquirir seu dinheiro, sem barulhos.
    Foi procurar o vizinho e lhe falou:
    — Vizinho, nesse tempo, ninguém pode ter confiança senão em si mesmo, apesar dos dentes morderem a língua e ambos viverem juntos. Juntei minhas economias e escondi num pé de árvore ali no meu quintal, pensando ser um lugar seguro. Acabo de receber um bom dinheiro e vim pedir conselho a você. Guardo tudo junto ou levo esse dinheiro para a cidade?
    O vizinho pensou logo em pegar todo o dinheiro do cego e aconselhou-o que deixasse tudo junto, no mesmo canto já antigo.
    E logo que escureceu, correu e foi levar o que havia tirado na noite anterior, para o cego não desconfiar. Cobriu tudo de areia, alisou, retirou-se. Mais tarde, o cego procurou o cantinho velho e tomou posse do seu dinheiro ali colocado pelo vizinho que sonhava ficar com tudo.
    E quando o ladrão voltou, encontrou apenas o buraco oco, sem um níquel sequer.

Cascudo, Luis da Câmara.Literatura oral do Brasil. Belo Horizonte. Itariaia, 1984.p.303.

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