HINO À PAZ - JOSÉ FERNANDES - GOIÁS

  
HINO À PAZ
José Fernandes

Ó Paz, divina Paz, musica ouvida nos absconsos
silêncios, longe dos olhos dos deuses e dos homens,
que confundes amor e ódio, temperas a guerra com as chamas
da mentira e sufocas a verdade no interior das frias pedras
dos pólos, esconjuro-te pela poderosa Necessidade,
pela inexorável flecha de Eros e pela lira de Hermes,
incendeie os sistemas límbicos de homens e deuses,
para que eles, revigorados pela flecha do grande
arqueiro possam derreter-se em amor uns para os outros
e celebrar as palavras de paulos e pedros nos montes
e nas oliveiras restaurados pelas bem-aventuranças!

Ó Paz, que consomes os sonhos de cristos e maomés,
que desejas silenciar o tiritir, o zinir e o sibilar de balas,
raios, coriscos, baionetas e bombardas de mísseis,
levanta-te e vede por todos os lugares e ponde sobre
o trágico viver dos infelizes humanos que se digladiam,
a fuga dos ventos maus que esfuziam canhões e bombas
e, como uma chama acesa, como um relâmpago,
enfraqueça-os, debilite-os e os torne incapazes
de qualquer atividade que contrarie Aquele
que é Logos, Palavra, Amor, Ahavá, Szerelem.
Ó Sabaot, Adonai, Eloim, Pagourê, Zagourê!




NATUREZA VIVA COM PONTOS
José Fernandes

O sangue do crepúsculo se deita no leito
do rio para amar os peixes na brancura das águas
e espalhar o viver pelas beiradas limosas
do encanto e do húmus burburinhando alevinos.

A manhã arrasta o sol e se debruça sobre o verde
para o fervor da ventania nas folhas e nos ramos
que bebem água pelos barrancos emprumados
de sua altivez de pedras mergulhadas no tempo.

Nas escamas dos dourados o sol se enfeita de brilho
e aguarda o lusco-fusco para se despedir da lua
com as mãos estendidas pela abóbada celeste
a fim de saciar a sede do dragão de São Jorge.

Cada tuiuiú que pousa nas copas do vento
sabe de cor as normas de todas as folhas do verão
e viaja altaneiro nas estradas das chalanas
que vencem os remansos todos do outono.

Nas romãs, eu colho as sementes dos pássaros
e caminho para o vermelho da tarde: repouso
nos olhos dos sapos que intanham a noite
e seus mistérios de rio e água indovoltandoindo...
8-6-2005.








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