GUIMARÃES ROSA


Primeiras Estórias

Este livro menos conhecido e analisado de Guimarães Rosa, lançado em 1962, é fruto da terceira fase do Movimento Modernista cultivado no Brasil. Os 21 contos giram em torno dos mistérios da vida humana; seus personagens estão sempre questionando o sentido da existência e a inevitabilidade da morte. O título se relaciona diretamente com o resgate das narrativas ancestrais. Afinal, Rosa bebe na fonte dos ‘causos’ que refletem a infância da Humanidade. Nos contos deste livro as lembranças e a morte são presenças certas. Por exemplo, o narrador em primeira pessoa do conto “Nenhum, Nenhuma” tenta compreender os dilemas que envolvem a aproximação da morte, sempre com a cumplicidade explícita de sua memória, uma das personagens principais dessa história. A relação com a Morte e com o desejo de imortalidade está presente em toda a obra de Rosa, mas talvez com mais intensidade em “Primeiras Estórias”.

Grande Sertão: Veredas

Guimarães Rosa percorre, assim como seus personagens, uma odisseia em busca da chama eterna, da imortalidade. Ele se perpetua em sua obra, nos seus heróis, enveredando por trilhas que conferem à sua ficção um caráter universalista, ainda que ambientada no sertão mineiro, terra natal do autor. Boa parte de sua obra retrata a travessia de um personagem em busca de sua própria identidade, tentando, a partir de um olhar voltado para o passado, elaborar em sua consciência tudo que se passa na tela de sua mente ao longo dessa travessia. Como Riobaldo, que para resgatar Diadorim do sono do esquecimento, narra sua história. Aliás, é a morte da amada que possibilita ao jagunço apossar-se da linguagem, pois é através da narrativa que ele procura compreender o passado, assim eterniza Diadorim em suas lembranças e cura as feridas de seu coração, ainda inconformado com sua perda.

Sagarana

Esta obra é a primeira publicação deste autor. Composto de nove contos, nos quais já se destacam as características que se tornariam marcas inconfundíveis deste mestre da literatura universal, a visão inovadora sobre a morte, os animais retratados como se fossem seres humanos, as profundas meditações sobre a alma humana e a existência do Homem. Ele foi lançado em 1946. Cinco dos contos de Sagarana traduzem para a vida do sertanejo remotos mitos e trajetórias épicas que elevam o status destas histórias a um patamar que transcende o tempo e o espaço, eternizando-as no rol dos clássicos literários. São eles O Burrinho Pedrês, Duelo, São Marcos, A Hora e a Vez de Augusto Matraga e Corpo Fechado. No primeiro está presente também outra característica marcante do autor, o tom feérico que perpassa muitas de suas narrativas, introduzindo no universo do sertão a esfera do maravilhoso, muitas vezes instaurada pelo famoso início dos contos de fada, ‘Era uma vez’.

Manuelzão e Miguilim

Este livro é dividido em duas novelas, Campo Geral e Uma Estória de Amor. A narrativa da primeira é conduzida por Miguilim, um garoto que reside no bosque do Mutum, em Minas Gerais, ao lado de seus familiares. A segunda estória tem como narrador Manuelzão, um velho vaqueiro que gere uma propriedade e nestas terras edifica uma capela, desejo de sua mãe, já morta. As duas tramas se complementam ao revelar os meandros da meninice e da idade madura dos protagonistas, sempre focadas nas suas primeiras experiências e nas lembranças. Dessa forma, o autor pode revelar o início e o final da existência de seus personagens. Em Campo Geral prepondera o ponto de vista infantil, enquanto em Uma Estória de Amor o leitor se depara com a visão de um idoso com mais de sessenta anos.

Manuelzão e Miguilim é composto por duas novelas “Campo Geral” e “Uma estória de Amor”, um narrada por Miguilim, um menino que mora com sua família na mata do Mutum em Minas Gerais, e outra narrada por Manuelzão, um vaqueiro que administra uma fazenda e nela constrói uma capela a pedido de sua falecida mãe. As duas histórias se completam mostrando a infância e a velhice dos personagens, girando sempre em torno de suas descobertas e recordações.

O texto é escrito em terceira pessoa, a partir das vivências do universo infantil de Miguilim, e do universo maduro e vivido de Manuelzão, um homem de mais de sessenta anos, revelando suas alegrias e tristezas, suas reflexões, sua visão de mundo. As duas histórias acabam se complementando, como um começo e um fim de vida.

Campo Geral

É uma narrativa lírica que recria o mundo a partir da visão de uma criança. A infância é seu assunto principal, mostrada por Guimarães Rosa com emoção e sensibilidade. A novela ficou conhecida pelo nome de MIGUILIM, por ser uma espécie de biografia do mesmo, narrada somente sob seu ângulo de visão, porém aos moldes de um narrador onisciente.

Miguilim é uma criança inteligente e sensível e é sob a visão observadora deste menino que as personagens vão sendo apresentadas no texto, são elas: a mãe, os irmãos, o padrasto, o tio Terêz, a avó ranzinza, o pai que se suicidara, entre outros.

O tempo da narrativa é predominantemente psicológico, sem preocupação com as datas, e portanto, dando maior ênfase ao espaço e às pessoas (personagens). Tem como temas o amor, a fé, a amizade, a violência e como já dito, a infância. Com a morte do irmão e companheiro de brincadeiras, Dito, Miguilim é forçado a amadurecer, tornar-se independente.

Os demais acontecimentos da história giram todos em torno de sua convivência com outros personagens, como família e amigos, e de suas observações a respeito do mundo e das pessoas que o rodeiam.

Uma Estória de Amor

Mais conhecida como Manuelzão, a novela “Uma estória de amor” fala, de uma maneira igualmente lírica, da outra extremidade da vida, a velhice, reconstituindo a vida do vaqueiro Manuelzão, e relatando a consagração da capela que ele constrói na fazenda que administra.

A narrativa se desenvolve na véspera de uma boiada, relembrando sua vida e misturando suas recordações com os fatos do presente. A história se passa na fazenda Samara, entre o Rio e a Serra dos Gerais, contanto a respeito de uma festa que reuniu o povo e um padre para fazer a consagração da capela que havia sido construída na fazenda.

O discurso é indireto livre e o narrador fala pela boca de Manuelzão, mostrando sua visão pessoal a respeito dos acontecimentos. Tudo gira em torno desta personagem, que fala a respeito daquilo que teve maior significado durante sua vida: sua mãe, que havida pedido para ele construir a capela, seus cavalo, sua fazenda e sua vida selvagem no sertão.

Durante os preparativos da boiada, ele vai reconstituindo os fatos de sua vida, e a respeito deles fazendo suas reflexões.

Tutaméia – Terceiras Estórias

Este talvez seja o livro mais inusitado de Rosa, assim considerado não só na época de seu lançamento, em 1967, mas também nos dias de hoje. Nele se combinam 40 contos muito concisos, antes publicados no veículo Pulso. Além da quantidade de histórias e de seu tamanho, o título da obra também chamou a atenção de todos. Afinal de contas, onde estavam as segundas estórias? Por que pular para as Terceiras Estórias? Além disso, a história foi aqui excluída; o tecido do texto, portanto, é bem sutil. O leitor não deve, portanto, esperar encontrar uma trama consistente, pois ele só achará uma sucessão de pensamentos, ações incidentais encadeadas entre si e atos fortuitos. Estes pequenos textos exigem a interação do leitor para se tornarem compreensíveis.

http://www.infoescola.com/autor/ana-lucia-santana

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