ANOITECIMENTO
Dizem que tenho mãos abençoadas,
porque alinhavo palavras e entreteço
versos que saem do barro despidos
para a dança que se fia com o amor
da musa que me aquece em suspiros
felinos.
Por isso, não anoiteço como quem
não tem Polímnia para esconder-se
no silêncio e perder-se nas vozes
que se esvaem nos arpejos que ouço
em braços de palavras convertidos.
Minha musa sempre vem ao poema
porque beija a nudeza da palavra
enamorada e macula-se com o gozo
do poema que se veste com a última
peça que também suspira a sua presença.
Por isso, quando me poemo, me dispo,
às vezes, de tudo que lembre as dores
que não sinto, mas que sou, para ater-me
apenas ao gozo que filtra a angústia de ser
tão humano e divino nos abraços de Polímnia.
23-12-13
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