O sentimento, que engana que o vê abstrato, é o mais concreto dos sentidos
Eu, agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(Mario Quintana)
E assim começa a dúvida daquele tal sentimento sem explicação definida, a tal da saudade, que até o momento você ainda não sabe se é lembrança, carinho, perda, distância ou apenas — sentir saudade. Todas essas características são descritas no dicionário dessa forma, mas será isso mesmo?
Afinal, saudades do que?
Do cheiro? Da companhia? Dos risos? Dos choros? Das brigas? Das brincadeiras? Do ter alguém ao seu lado? Como alguém pode sentir saúde de coisas abstratas? Bom, a saudade é abstrata, mas como o ser humano se submete a ter um sentimento dessa forma — tão, tão, mas tão surreal e abstrato.
Imagine se as pessoas fossem abstratas iguais aos sentimentos, seria bacana não acha?
Olha só que maravilha, você iria amar alguém abstrato, surreal, que não existe fisicamente — ok, existem amores platônicos, mas não é o caso desses, e esse abstrato iria cair em esquecimento, pois você não o enxerga e nem pode tocá-lo, e se você não pode fazer isso, você não aprende a amar — pronto! Descobrimos a solução para não ter saudade: se relacionar apenas com pessoas abstratas, assim evita sofrimentos, dores, perdas e a saudade não iria existir. Maravilha! Mas infelizmente não é assim, somos feitos de carne, osso e sentimento — E como dá trabalho e faz coisa errada esse tal de sentimento, e tem mania de criar coisas dolorosas nas nossas mentes.
E desde que somos crianças aprendemos a sentir saudades: daqueles que partiram, dos amigos que mudaram de cidade, da infância que não volta mais; mas existe uma saudade mais dolorosa, a saudade do amor, da paixão, daquilo que um dia te fez sentir borboletas no estômago e criar situações fantasiosas na sua mente em menos de 5 segundos.
Esse amor, como dói, muitos dizem que nós procuramos essa dor, mas não concordo com isso. Por que vou procurar a dor? Ela veio até mim oras, e vem de diversas formas, do fora que levou, do término do namoro, do beijo em outra pessoa na sua frente, da indiferença na conversa, da frieza das palavras e dos gestos não retribuídos, e aí eu te pergunto: — Você foi atrás dessa dor? E eu te respondo: — Não, você não foi. Você apenas foi atrás da pessoa que amava e ela te fez sentir essas dores. E assim, chego à conclusão: As pessoas não pensam nos sentimentos dos outros, e quando pensam, é porque já passaram por todas essas dores que alguém causou nelas.
E sabe o pior? Que muitas pessoas nos machucam mais de duas, três, quatro, infinitas vezes. E pior ainda: cometendo o mesmo erro, e nós o que fazemos? Perdoamos. Lógico, isso mesmo. Perdoamos, porque amamos, porque queremos o bem para os nossos sentimentos, porque queremos o fim da angústia e daquela indiferença que fere nossa alma. E depois que perdoamos o que acontece? É lógico que tudo termina como um conto de fadas perfeito — não, não sonhe alto! Depois que você perdoa, esse alguém que você ama vai até a fulana da balada, do facebook, do tinder, do whatsaap, do snapchat, seja da onde for e troca você por ela apenas por um momento, ela que nem sabe tudo que você fez pra ter esse alguém, ela que nem imagina o esforço que você fez para perdoar a pessoa amada, essa “ela” chega e destrói tudo que você tentou recuperar: a dor de todos os sentimentos infinitos.
Mas tem um porém, você não pode julgá-la, e se essa “ela” também sofreu tudo que você está passando agora? — Olha, tenho certeza que ela já passou! — e está apenas tentando recuperar os sentimentos com uma pessoa nova, e é assim que gira o mundo: Você se ferra com alguém, vai pra outra pessoa que também irá te machucar, depois conhece outro e esse também irá te ferir de algum modo, e o desfecho sempre será o mesmo, até um dia você encontrar alguém que te valorize, e esse alguém certamente já sofreu muito e irá respeitar seus sentimentos, assim como você irá respeitar os dele, até chegar o dia que o amor de vocês irá acabar, por quê? Porque é perfeito demais: respeito, amor, carinho, cumplicidade. E o amor não quer perfeição, o amor quer aventura, emoção, sofrimento, indiferença, porque é sofrendo que você aprende a amar aquele te causou toda essa dor. Como somos estranhos não acha? Nós amamos aqueles que nos machucam e não aqueles que nos querem bem. Somos malucos, malucos de amor, sofremos da doença do amor e se alguém conseguir um dia explicar porque somos assim, eu juro de verdade, que nunca mais vou sofrer de amor — eu duvido, mas eu juro.
E finalizo tudo isso, dizendo: “O amor pertence à insuspeitada categoria das coisas imprevisíveis”. Por que é o imprevisível que nos atrai e nos faz cometer loucuras em busca do sentimento de amar.
REVISTA BULA
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