Em texto que serviu de prefácio para uma das inúmeras edições de A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, Vinicius de Moraes elege a obra como a melhor novela da literatura brasileira. Opinião ratificada por muitos críticos, que consideram esta a obra-prima de Jorge Amado.
O enredo trata do mistério da morte, ou das mortes, de Quincas Berro Dágua, um bêbado inveterado, rei da esbórnia, das mulatas e de todos os vagabundos da Bahia. Para desvendar esse mistério, ficamos sabendo que Quincas na verdade se chamava Joaquim Soares da Cunha, e até seus cinquenta anos era um respeitável e comedido funcionário da Mesa de Rendas Estadual.
Mas o que levou um cidadão exemplar, de boa família, a passar por tamanha transformação? Esta é a pergunta que paira sobre a leitura dessa novela e cuja resposta o autor vai tecendo com maestria, revelando ao poucos as peripécias do personagem que se prestou a abandonar a família e levar uma vida desregrada, à margem de todas as convenções sociais.
No desenrolar da história, um belo dia Quincas é encontrado morto na pocilga em que vivia e, avisada da morte, sua filha vê a oportunidade de resgatar o pai da vida indecente que levava, procurando com isso devolver a dignidade da família. Empenha-se então em promover um enterro digno ao morto, esperando com isso, pelo menos em memória, trazer de volta a real identidade do pai e cidadão de bem.
No entanto, o plano é frustrado com a chegada ao velório dos amigos mais íntimos de Quincas Berro Dágua, quatro cachaceiros como ele e que estão inconsoláveis com a morte do companheiro de tantas horas memoráveis. Assim, os amigos Curió, Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé de Vento acabam fazendo o morto beber cachaça e o levam para uma última esbórnia.
Segundo o relato do autor, o que se passou então é motivo de controvérsia e as dúvidas sobre a morte de Quincas até hoje geram certa confusão. Enquanto testemunhas do ocorrido narram detalhes absurdos, a família insiste na versão de uma morte tranquila e sem atropelos.
Seja qual for a interpretação que se queira dar ao desfecho da história, a verdade está com Vinicius de Moraes quando disse no prefácio da obra que saímos da leitura desta novela com uma sensação de bem-estar físico e espiritual como só dão os prazeres do copo e da mesa, quando se está com sede ou com fome, e os da cama quando se ama.
UOL EDUCAÇÃO
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