FÁCIL DE FAZER - CULINÁRIA
LASANHA DE PÃO DE FORMA
Ingredientes:
1 pacote de pão de forma
1 lata de creme de leite
1 cebola
3 dentes de alho
1/2 kg de queijo mussarela
1/2 kg de presunto
Modo de Preparo
Em uma panela refoque a cebola e o alho logo em seguida coloquem a lata de creme de leite, deixe no fogo até levantar a primeira fervura, apague o fogo e reserve.
Para montar é só retirar a casca do pão de forma e colocando uma camada de cada.
Leve ao forno por alguns minutos antes de servir, retirando assim que o queijo estiver derretido.
Panqueca de frango cremosa
Ingredientes:
Para a Massa:
3 xícaras de farinha de trigo com fermento;
4 ovos;
2 colher Sopa de azeite;
leite o quanto baste para formar uma massa cremosa;
1 pitada de sal;
Tempero verde;
Para o Recheio:
1 frango assado desfiado;
1 lata de ervilhas;
1 copo de requeijão;
Para o Molho:
1 lata de milho verde;
2 medidas de leite;
1 caixa de creme de creme de leite;
200 gramas de azeitona sem caroço;
200 gramas de mussarela;
2 tomates picadinho sem pele;
Modo de preparo:
Num liquidificador, coloque todos os ingredientes da massa e bata bem.
Numa frigideira, unte-a com azeite e vá fazendo as panquecas. Reserve.
Misture os ingredientes do recheio bem e vá formando as panquecas.
Arrume em um refratário.
Leve ao fogo todos os ingredientes do molho e misture até que fique uma mistura bem encorpada.
Despeje esse molho sobre as panquecas e leve ao forno por 15 minutos.
Lasanha de berinjela
Ingredientes:
3 berinjelas grandes cruas;
1 lata de molho de tomate de sua preferência;
1 maço de coentro cortado e pedaços pequenos;
Azeitonas sem caroço cortadas;
300 g de queijo muzarela fatiado;
300 g de presunto fatiado;
2 colheres de azeite;
Queijo catupiri;
Como fazer:
Corte as berinjelas em fatias finas, no sentido do comprimento;
Em uma assadeira retangular refratária, coloque no fundo as duas colheres de azeite e um pouco de molho de tomate;
Coloque então uma camada de berinjela; Cubra com molho de tomate, salpique com azeitonas e coentro e em seguida coloque uma camada de presunto; a seguir, coloque uma camada de berinjela, cubra com molho de tomate e por cima coloque uma camada de queijo muzarela;
Repita os passos 3 e 4 para formar mais duas camadas;
Coloque por cima da última camada queijo catupiri, a gosto, e cubra a assadeira com papel alumínio;
Leve ao forno em temperatura de 180º graus por cerca de 30 minutos para cozinhar;
Após isso retire o papel alumínio e deixe por mais 5 a 10 minutos para gratinar.
Sirva quente.
Nhoque
Ingredientes:
1Kg de batatas cozidas e amassadas;
2 ovos;
Farinha de trigo;
Modo de preparo:
Em um recipiente misture as batatas, o ovo e farinha de trigo até endurecer.
Faça rolinhos com a massa e corte em cubos.
Cozimento:
Cozinhe em água fervendo com sal e óleo, quando o nhoque subir, retire-o.
Para servir utilize margarina derretida ou molho de tomate com queijo ralado. Ou um molho de sua preferência.
CULINÁRIA: DICA PARA AQUELE LANCHINHO / CUCA DE UVA
CUCA DE UVA
Ingredientes para a Massa:
Para a cobertura:
2 cachos de uva preta (bordô);
1 xícara (chá) + 2 colheres (sopa) de açúcar;
1 e 1/4 de xícara (chá) de farinha de trigo;
Raspas das cascas de um limão ou 10 gotas de baunilha;
1/4 xícara (chá) de manteiga cortada em pedacinhos;
Modo de Preparo:
- Coloque a farinha em uma tigela com sal e o açúcar, abrindo um buraco no meio da farinha. -Dissolva o fervento no leite e coloque na depressão formada na mistura de farinhas. Faça movimentos circulares, de dentro para fora, até o líquido ficar incorporado à farinha.
-Amasse ligeiramente e deixe descansar por 15 minutos.
-Derreta a manteiga e adicione à massa.
-Junte os ovos.
- Sove bastante a massa, para que fise lisa e homogênea.
-Deixe descansar por 30 minutos.
-Unte uma forma retangular média e espalhe a massa. Reserve.
- Lave bem as uvas e tire dos cachos. Seque. Espalhe os bagos de uva por cima da massa. Prepare uma farofa, misturando o açúcar, a farinha, as raspas de limão (ou essência de baunilha) e a manteiga. Espalhe sobre as uvas com as mãos, criando farelos. Asse em forno médio (180ºC), preaquecido, por 30 minutos, até a superfície começar a dourar.
Ingredientes para a Massa:
4 xícaras (chá) de farinha de trigo;
1/2 colher (chá) de sal;
1/2 xícara (chá) de açúcar;
1 e 1/2 colher (sopa) de fermento biológico;
1 xícara de (chá) de leite morno;
1/3 xícara (chá) + 1 colher (sopa) de manteiga;
2 ovos.Para a cobertura:
2 cachos de uva preta (bordô);
1 xícara (chá) + 2 colheres (sopa) de açúcar;
1 e 1/4 de xícara (chá) de farinha de trigo;
Raspas das cascas de um limão ou 10 gotas de baunilha;
1/4 xícara (chá) de manteiga cortada em pedacinhos;
Modo de Preparo:
- Coloque a farinha em uma tigela com sal e o açúcar, abrindo um buraco no meio da farinha. -Dissolva o fervento no leite e coloque na depressão formada na mistura de farinhas. Faça movimentos circulares, de dentro para fora, até o líquido ficar incorporado à farinha.
-Amasse ligeiramente e deixe descansar por 15 minutos.
-Derreta a manteiga e adicione à massa.
-Junte os ovos.
- Sove bastante a massa, para que fise lisa e homogênea.
-Deixe descansar por 30 minutos.
-Unte uma forma retangular média e espalhe a massa. Reserve.
- Lave bem as uvas e tire dos cachos. Seque. Espalhe os bagos de uva por cima da massa. Prepare uma farofa, misturando o açúcar, a farinha, as raspas de limão (ou essência de baunilha) e a manteiga. Espalhe sobre as uvas com as mãos, criando farelos. Asse em forno médio (180ºC), preaquecido, por 30 minutos, até a superfície começar a dourar.
ATA DA REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRAS / 21-01-2014
Memória da Reunião da Associação Confraria das Letras (21/01/2014)
Em 03/09/2013, na Biblioteca do SESC de Joinville, reuniram-se para o primeiro encontro mensal de 2014, integrantes da Associação Confraria das Letras. Estavam presentes: David Gonçalves (presidente), Odenilde, Donald, Bernadete, Maria de Fátima, Maria Rosa, Márcia, Rita, Hilton, Carlos Adauto, Valério e Bernadete, Daesi, Milton, Vivaldo e Nilza, Evelin, Silvio e Marlete. O presidente fez a abertura e deu início a reunião, como segue:
1º. Assunto: Antologia cooperativada
O presidente informou que a antologia cooperativada está um sucesso. Já constam os trabalhos de 20 associados, sendo os poetas: Zabot, Donald, José Fernandes, Odenilde, Salustiano, Evelin e Márcia. Os autores de prosa inscritos são: Marlete, Hilton, Daesi, Milton, Carlos Adauto, Valério, Silvio, Maria de Fátima, Maria Rosa, Vivaldo, Nilza, Rita e David. O livro será em papel pólen Suzano, costurado, com uma capa de boa qualidade e serão feitas 1.000 cópias e a Editora será a Paloti de Santa Maria. Silvio está responsável por recolher a verba, que poderá ser paga em uma vez (300 reais) ou em três vezes de 100 reais. O lançamento está previsto para abril, na Feira do Livro de Joinville. Até o dia 30 o presidente ainda receberá trabalhos e sugestões de títulos para o livro.
2º. Assunto: Mensalidades da Associação
O presidente propôs que neste ano a mensalidade seja de R$ 20,00 por mês e todos votaram favoravelmente. Marlete sugeriu uma organização mais apurada na contabilidade e na administração geral da associação e é apoiada por todos. Neste ponto o presidente explicou que o Banco do Brasil ligou para informar que a associação não poderá abrir a conta por enquanto porque houve uma falha no registro da associação. O registro foi em set/out/2012, porém ela já existia desde maio e em maio de 2013 precisaria nova eleição e registro, o que não aconteceu. Assim já estão marcadas eleições para maio deste ano. Como o associado Osório está afastado por motivos particulares, Odenilde ficará responsável pela cobrança das mensalidades até maio.
3º. Assunto: 5ª. Antologia
David lançou a questão da 5ª. Antologia, se sairia ou não e todos votaram favoravelmente. Após rápida discussão, decidiu-se que todos os associados, em dia com suas mensalidades, poderão entrar nesta antologia. Os trabalhos serão enviados ao David até 15/02, sendo textos de até 2.500 caracteres. Valério fará provas de capa que serão votadas pelos associados.
4º. Assunto: II Encontro Catarinense de Escritores – Organização da Confraria das Letras
O presidente propôs a formação de uma equipe para começar a organização do II Encontro. A equipe ficou assim constituída: Donald (gerente), Vivaldo, Nilza, Maria de Fátima, Márcia, Milton, Odenilde, Evelin, Marlete, Silvio e Rita.
5º. Assunto: Feira de Livros de Joinville
A equipe que compareceu à reunião da Feira de Livros trouxe poucas novidades. Os associados concordaram que o lançamento da Antologia Cooperativada deveria ser na quarta-feira, as 19:30h e que haverá um outro dia para todos os associados que tiverem livros para lançar. A associação fará presença junto ao estande da biblioteca. Silvio e Márcia comentaram que não passaram o cronograma ainda, que há um problema entre as livrarias da cidade e a organização da feira e que somente a Livraria Saber comercializará os livros. Haverá outra reunião da feira no dia 04 de fevereiro.
6º. Assunto: Milton pede a palavra
Milton dá três sugestões para serem desenvolvidas pela associação neste ano: 1) dobrar o número de associados, 2) livraria virtual e 3) organizar um concurso. As sugestões foram bem recebidas e Vivaldo sugeriu que a premiação dos ganhadores seja durante o II Encontro e a ideia foi bem recebida.
7º. Assunto: Assuntos diversos
Foram dadas sugestões sobre a associação em si: alteração do nome por causa da analogia com a Confraria do Escritor e alterações diversas no estatuto. O presidente sugeriu que ficasse tudo como está até maio e após a eleição, a chapa que assumir, poderá propor as mudanças. Todos concordaram e muitos pediram para receber o estatuto por e-mail para analisar seu conteúdo.
8º. Assunto: próxima reunião
A próxima reunião foi agendada para 04 de fevereiro no plenarinho da Câmara de Vereadores de Joinville.
Sem outros assuntos a reunião foi encerrada pelo presidente. Esta memória de reunião foi elaborada por Nilza.
Joinville, 27 de janeiro de 2014
Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios
Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios
E de agora em diante, fica estabelecido que todos os corações vazios, mal amados, partidos, abandonados ou tão somente subutilizados serão pacífica e amorosamente invadidos e ocupados pelo amor em todas as suas formas.
Sem paus e pedras e enxadas, mas com flores e música e presentes e simples declarações de apreço e cuidado, o amor tomará posse irrevogável de todo e qualquer coração devoluto. Banqueiros e bancários, construtores e operários, empresários, professores, artistas de rua, profissionais de toda sorte, adultos e crianças e velhinhos, todas as almas solitárias deste mundo! Preparem-se para ceder sem luta à chegada implacável do amor às terras férteis de seus corações.
Abram seus portões, escancarem as portas, liberem as janelas, prendam os cachorros e preparem a casa à visita permanente do amor operário, trabalhador, corajoso e simples. Ele vai chegar sem slogans ou passeatas, sem discursos, gritos de guerra ou enfrentamentos com a polícia. Vai surgir na hora mais silenciosa da noite, deitar ao seu lado e acordar com você na hora de ir ao trabalho, como se ali estivesse desde sempre.
O amor vai chegar assim, de manso, mas com o passo forte e a potência de um jato varrendo a craca dos rancores, a sujeira grossa dos maus pensamentos, a gordura acumulada das chateações diárias, da burrice, da inveja, da grosseria. Virá com a força mesma da vida, desobstruindo os canais da memória entupidos de morte. Virá alegre como o cão que reencontra o dono depois da eternidade de um dia inteiro sozinho em casa, à espera.
E então as preocupações ordinárias e mesquinhas farão as malas e deixarão os corações livres para viver em absoluto estado de ocupação plena pelas intenções e ações de um amor generoso, diário e vital.
Esse amor que acorda cedo e faz ginástica, que parece tão mais jovem do que de fato é, esse amor vai pintar as paredes da casa, mudar a posição dos móveis, vai matar a sede e a fome que restam, soltar os passarinhos de suas gaiolas ridículas, vai cuidar da horta no quintal e presentear os vizinhos com as verduras frescas. Esse amor vai florescer e perdurar e se esparramar pelas redondezas. Vai levar ao passeio diário os cachorros que vivem dentro de cada um de nós. Esse amor vai invadir em paz a nossa vida tão talhada para a guerra.
E quando as forças armadas de um coração já machucado se levantarem em defesa natural de sua estrutura, em puro e simples movimento de autopreservação, o amor estenderá sua mão pequena e linda, de unhas roídas e sem nenhum esmalte, e todas as armas cairão em silêncio. Então esse coração abrirá suas fronteiras à chegada irrefreável do encantamento amoroso e total, explosão de energia que nos leva ao encontro de quem somos, nos resgata da morte e nos devolve, sãos e salvos, à vida que é hoje, amanhã e depois um longo e eterno agora.
REVISA BULA
SANGUE VERDE - DAVID GONÇALVES / EM EDIÇÃO
— Ela se afina mesmo como corda de viola? — pergunta, meio assustado e admirado, Zé das Trilhas, enquanto aperta o dorso do cão.
— Artimanha dela. Espicha, encolhe, afina, engrossa, sempre com o nó do rabo numa raiz forte. Até que o boi fraqueja... Enfraquecido, mal respira. Ela, então, enlaça-o pelo pescoço, depois pela barriga e dorso. É o fim. Ela arrocha mesmo e quebra os ossos um por um. Por uns dias, ela se amoita e tem comida farta... Não se incomoda com ninguém. Ela está com a barrigona cheia. Todo mundo pode passar perto dela, até tropeçar nela que nem bola dá.
As sombras dançam inquietas nas paredes do armazém. O velho Gabiroba sentencia:
— Ela está espreitando pelas redondezas.
Os dois homens estão ressabiados. Olham assustados o pátio escuro como se tivessem ouvido um rastejar. Pouco conversam. Está na hora de fechar as portas; pernilongos e maruins, na noite morna, estão sedentos de sangue.
GRANDE SERTÃO; VEREDAS / GUIMARÃES ROSA
"VINGAR, DIGO AO SENHOR: É LAMBER, FRIO, O QUE OUTRO COZINHOU QUENTE DEMAIS." ( PG.74 - GRANDE SERTÃO: VEREDAS)
"O AMOR? PÁSSARO QUE PÕE OVOS DE FERRO" (PG.49 - GRANDE SERTÃO: VEREDAS)
_
"AH, MEDO TENHO NÃO É DE VER MORTE, MAS DE VER NASCIMENTO. MEDO MISTÉRIO." (PG.74/ GRANDE SERTÃO: VEREDAS)
"DO ÓDIO, SENDO. ACHO QUE ÀS VEZES, É ATÉ OM AJUDA DO ÓDIO QUE SE TEM A UMA PESSOA QUE O AMOR TIDO A OUTRA AUMENTA MAIS FORTE.CORAÇÃO CRESCE DE TODO LADO. CORAÇÃO VIGE FEITO RIACHO COLOMINHANDO POR SERRAS E VARJAS, MATAS E CAMPINAS" ( GRANDE SERTÃO: VEREDAS - PG.145)
"SÓ OUTRO SILÊNCIO. O SENHOR SABE O QUE O SILÊNCIO É? É A GENTE MESMO, DEMAIS." (RIOBALDO - GRANDE SERTÃO: VEREDAS/ PG. 319)
GRANDE SERTÃO: VEREDAS -LIVRARIA JOSÉ OLYMPIO- 7ª ED. 1970
ANOITECIMENTO / JOSÉ FERNANDES / GIOÁS
ANOITECIMENTO
Dizem que tenho mãos abençoadas,
porque alinhavo palavras e entreteço
versos que saem do barro despidos
para a dança que se fia com o amor
da musa que me aquece em suspiros
felinos.
Por isso, não anoiteço como quem
não tem Polímnia para esconder-se
no silêncio e perder-se nas vozes
que se esvaem nos arpejos que ouço
em braços de palavras convertidos.
Minha musa sempre vem ao poema
porque beija a nudeza da palavra
enamorada e macula-se com o gozo
do poema que se veste com a última
peça que também suspira a sua presença.
Por isso, quando me poemo, me dispo,
às vezes, de tudo que lembre as dores
que não sinto, mas que sou, para ater-me
apenas ao gozo que filtra a angústia de ser
tão humano e divino nos abraços de Polímnia.
23-12-13
Dizem que tenho mãos abençoadas,
porque alinhavo palavras e entreteço
versos que saem do barro despidos
para a dança que se fia com o amor
da musa que me aquece em suspiros
felinos.
Por isso, não anoiteço como quem
não tem Polímnia para esconder-se
no silêncio e perder-se nas vozes
que se esvaem nos arpejos que ouço
em braços de palavras convertidos.
Minha musa sempre vem ao poema
porque beija a nudeza da palavra
enamorada e macula-se com o gozo
do poema que se veste com a última
peça que também suspira a sua presença.
Por isso, quando me poemo, me dispo,
às vezes, de tudo que lembre as dores
que não sinto, mas que sou, para ater-me
apenas ao gozo que filtra a angústia de ser
tão humano e divino nos abraços de Polímnia.
23-12-13
TRECHO "SANGUE VERDE" - DAVID GONÇALVES / EM EDIÇÃO
"É COM CERTA SABEDORIA que se diz: pelos olhos se conhece uma pessoa. Bem, há olhares de todos os tipos – dos dissimulados aos da cobiça, seja pelo vil metal ou pelo sexo.
Garimpeiro se conhece pelos olhos. Olhos de febre, que flamejam e reluzem. Há, em suas pupilas, o ouro. O brilho dourado tatua a íris. Trata-se apenas de um reflexo de sua alma e daquilo que corre em suas veias. É um vírus. A princípio, um sonho distante, mas, ao correr dos dias, torna-se uma angustiante busca. Na primeira vez que o ouro fagulha na sua frente, na bateia, toda a alma se contamina e o vírus se transforma em doença incurável.
Todos, no garimpo, têm histórias semelhantes. Têm família, filhos, empregos em suas cidades, nos distantes Estados, mas, de repente, espalha-se a notícia do ouro. Então, largam tudo, vendem a roupa do corpo e lá se vão. Caçar o rastro do ouro é a sina. Nos olhos, a febre – um brilho dourado doentio. Sim, é fácil conhecer um garimpeiro...
Todos sabem que, no garimpo, não é lugar para se viver. Mas ninguém abandona o seu posto. Suor, lama, pedregulhos, pepitas douradas, cansaço – é a vida que até o diabo rejeita.
Por onde passam, o rastro da destruição. A Amazônia é nossa. Tratores e retro-escavadeiras derrubam e limpam a floresta; as dragas chegam, os rios se contaminam rapidamente de mercúrio. Quem pode mais, chora menos. Na trilha do brilho dourado, nada se preserva. Ai daqueles que levantarem alguma voz... No dia seguinte, o corpo é encontrado no meio da selva, um bom prato aos bichos.
Tal lugar tem ouro – a notícia se espalha. De planícies e montanhas, mar e sertão, de Norte a Sul, Leste a Oeste, mais de dez mil almas atendem ao chamado. Surgem do nada, como mágica: de barco, ônibus, avião, moto, calhambeques estropiados, até a pé. Mas atendem ao chamado. De repente, a floresta se transforma em um formigueiro. E lá se vai a Amazônia..."
PRÁTICA DE LEITURA
A ANDORINHA
Não esperaria mais, que elas podiam voar. Havia seis pousadas agora, juntas. Apontaria numa: às vezes podia errar e acertar na outra perto. Colocou a pedra no couro. Fez pontaria. O coração começou a bater depressa, contou até dez, apontou, apontou, e deu a estilingada, No primeiro instantes viu confundidos as pancadas de seu coração e o voo assustado das andorinhas e então gritou “acertei!” “acertei!” vendo uma andorinha despencando rente ao poste. Quis logo correr a ela.
Mas estancou lembrando-se de repente que talvez ela não estivesse morta, pelo jeito de cair parecia viva, e teria de se aproximar com cuidado, senão ela poderia fugir. Vira bem onde ela caira: no monte de capim seco ao redor do poste. Ele acertara e ela estava lá, talvez viva ainda. Pôs outra pedra no estilingue e aproximou-se. Ao curvar-se sobre o capim viu atônito a andorinha voar e deu a estilingada a esmo; viu-a voando rasteiro, rente à parede do armazém, e correu a procurar outra pedra que só achou ao fim de alguns minutos; colocou-a no estilingue e correu para a andorinha.
Podia vê-la agora inteiramente: ela estava encolhida no chão, no ângulo formado pelo armazém e uma pilha de tijolos velhos; era uma andorinha de asas muito pretas e luzidias. Não parecia que ia tornar a voar: uma de suas asas estava estirada sobre o chão, e a cabecinha levemente erguida. Ela estava deitada, estava caída, como se não pudesse firmar-se. Pensou que ela estivesse apenas tonta; talvez a pedra tivesse atingido de raspão e ela fosse voar a qualquer instante. E se ele errasse a próxima pedrada, ela podia assustar-se e desta vez voar para o céu, para bem longe ___ e ele teria perdido tudo, perdido a grande sorte que tivera naquela tarde, acertando pela primeira vez.
Mas era engraçado: vendo o pássaro ali no chão, à sua frente, pertinho, não tinha vontade de dar a estilingada. Era muito diferente vê-lo em cima do fio, o peito erguido, a cabecinha destacando-se contra o céu. Ali embaixo, caído no chão, encolhido contra a parede escura e suja do armazém, tão fácil de acertar, ele não tinha mais aquela vontade violenta de dar a estilingada. E era engraçado também como ele estava calmo, como seu coração não estava batendo doidamente.
Caminhou devagar para ela, o estilingue em punho, esperando apenas o primeiro movimento dela para desferir a pedrada. Mas ela não se movia. Talvez não estivesse apenas tonta; talvez estivesse ferida, tão ferida que não podia mover-se.
Chegou bem perto dela: ela encolheu-se um pouco mais contra a parede, mas não fez ameaça de voar; havia qualquer coisa: ela não voaria. Afrouxou o estilingue e ficou olhando. Percebeu o medo no olhinho que piscava, sentiu-se poderoso e cruel diante da insignificância e fragilidade do pássaro. Estava ali, sem fuga, sem voo, sem distância, sem erro, o que seria seu primeiro pássaro ___ por que não dava logo a pedrada mortal? Por que não a matava?
Agachando-se, estendeu a mão devagar para não assustá-la, e então segurou-a: ela não se debateu; e antes que abrisse os dedos para olhar sentiu a umidade e compreendeu que era sangue; a pedra acertara em cheio. E então teve raiva, teve raiva de si mesmo, do domingo, e do que fizera; teve raiva, teve raiva de sua astúcia, sua espera, sua alegria, e agora sua impotência: sabia que a andorinha ia morrer, sabia que ia morrer e que não podia fazer nada.
(Luís Vilela)
VOCABULÁRIO
1- Qual o significado da palavra em destaque?
a) “Quis logo correr a ela, mas estancou...” ( ) arrependeu-se ( ) parou ( ) sentiu pena
b) “Ao curvar-se sobre o capim viu atônito...” ( ) espantado ( ) calado ( ) sorridente
c) “...e deu a estilingada a esmo...” ( ) forte ( ) precisa ( ) sem direção
d) “... dela para desferir a pedrada.” ( ) atirar ( ) preparar ( ) acertar
e) “...teve raiva de sua astúcia...” ( ) teimosia ( ) habilidade ( ) erro
f) “...de asas muito pretas e luzidias.” ( ) brilhantes ( ) longas ( ) lisas
g) “...e agora sua impotência...” ( )coragem ( ) teimosia ( ) fragilidade
2- Complete as frases com a palavra adequada: desferiu, atônito, a esmo, astúcia.
a) Aquelas palavras deixaram o menino ----------------------------------.
b) Caminhava --------------------------------- pela cidade.
c) Apontou e --------------------------------- o golpe mortal.
d) Conseguiu chegar graças à sua ---------------------------------------.
ENTENDIMENTO DO TEXTO
1- As andorinhas estavam pousadas: ( ) no telhado do velho armazém; ( ) numa árvore;
( ) nos fios elétricos; ( ) no beiral da casa do menino.
2- Vendo uma andorinha despencando, qual foi a reação do menino: ( ) tristeza; ( ) alegria
( ) desprezo; ( ) surpresa; ( ) piedade.
3- Por que o menino não correu logo que viu a andorinha cair?
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4- “Pôs outra pedra no estilingue e aproximou-se.” Essa frase mostra que o menino foi: ( ) calmo
( ) prudente ( ) precipitado
5- A andorinha procurou um esconderijo. Qual? ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
6- A andorinha dava a impressão de que não teria condições de voar. Transcreva as frases do texto que comprovam esta afirmação.
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7- O menino, mesmo percebendo que a andorinha não se levantava, ficou com medo de atirar mais uma pedrada, porque: ( ) teve pene dela; ( ) ela não conseguiria agarrá-la; ( ) poderia errar e então ela fugiria.
8- A andorinha no chão, pertinho, deixara de ser um desafio para o menino. Transcreva uma frase do texto que comprove essa afirmação.
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9- Diante do pássaro, o menino sentiu-se um tirano. Que frase do texto mostra isso?
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10- Ao segurar a andorinha, o menino concluiu que a pedrada a havia ferido. Transcreva a frase que evidencie essa conclusão do menino.
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11- Contar o que a personagem faz, chama-se narração; apresentar as qualidade de algum ser, dizendo como é, está ou foi, chama-se descrição. Indique o que é narração e o que é descrição nos trechos abaixo, usando 1 para narração e 2 para descrição.
a) “Colocou a pedra no couro. Fez pontaria. O coração começou a bater depressa, contou até dez, apontou, apontou e deu a estilingada.” ( )
b) “... uma de suas asas estava estirada sobre o chão, e a cabecinha levemente erguida.” ( )
c)”Pôs outra pedra no estilingue e aproximou-se.” ( )
d) “Afrouxou o estilingue e ficou olhando.” ( )
e) “Ela estava deitada, caída...” ( )
f) “E era engraçado também como ele estava calmo...” ( )
g) “Agachando-se, estendeu a mão devagar para não assustá-la, e então segurou-a: ela não se debateu...” ( )
h) “... sentiu-se poderoso e cruel diante da insignificância e fragilidade do pássaro.” ( )
12- Qual o tipo de discurso utilizado no texto? Justifique sua resposta.
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13- Qual o foco narrativo? Tipo de narrador? Comprove sua resposta com um trecho do texto.
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DE PALAVRAS COMPOSTAS
De palavras compostas
*Qual é a grafia correta: multi-habilidade ou multihabilidade? C. D., São Paulo/SP
A grafia a ser usada é multi-habilidade. Normalmente o prefixo “multi” é escrito junto, dobrando o “r” e o “s” quando a palavra-base termina com tais letras, como por exemplo multirracial e multissecular. Mas sugere-se o uso de hífen quando o segundo elemento inicia por “h”, como multi-hotelaria, multi-horticultura e multi-hospedeiro, para que a palavra não fique descaracterizada.
* “Hora-extra” possui hífen ou não? N. M., Rio de Janeiro/RJ
Não. Hora extra se escreve sem hífen porque a palavra extra nesse caso funciona como simples adjetivo, com o significado de “suplementar, adicional”.
* Por qual razão moto-próprio leva hífen? M. L. O. C. Rio de Janeiro/RJ
O substantivo composto moto-próprio (que significa “documento papal editado por iniciativa pessoal e espontânea do próprio Papa” e tem o plural motos-próprios), à semelhança das expressões sinônimas moto-perpétuo (pl. motos-perpétuos) e moto-contínuo (pl. motos-contínuos) leva hífen porque é formada por dois substantivos, o primeiro significando “movimento, giro”. Não confundir o substantivo hifenizado com a expressão latina motu proprio, que se traduz na locução portuguesa de moto próprio, ou seja, “espontaneamente, por seu próprio ‘movimento’, de vontade própria”, como neste exemplo: “Janete deixou o cargo de assistente de moto próprio”.
Já as palavras compostas com o elemento prefixal ‘moto’ que se refere a motor são escritas sem hífen, como motoniveladora, motosserra, mototaxista, motonáutica.
* Qual a justificativa para não se colocar hífen na palavra composta supramencionado? Dessa maneira, é correto escrever supracitado, retromencionado? C. K. S., Tubarão/SC
A regra para o prefixo supra é a seguinte: só vai hífen antes de palavra que começa por vogal, h, r ou s. Portanto, supramencionado e supracitado são escritos numa só grafia.
Já retro é um dos prefixos que nunca é hifenizado. Logo, escrever retromencionado é correto, assim como se deve escrever retroprojetor e retroescavadeira.
HORA DO POVO
MARIA TEREZA DE QUEIROZ PIACENTINI*
*Autora dos livros “Só Vírgula” e “Só Palavras Compostas”, é diretora do Instituto Euclides da Cunha - www.linguabrasil.com.br
1ª REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES CONFRARIA DA LETRAS / 21/01/2014
NOSSA ASSOCIAÇÃO ESTÁ ABERTA AOS AMANTES DA ESCRITA DE QUALQUER PARTE. TODOS SÃO MUITO BEM-VINDOS! PARTICIPE! INFORMAÇÕES? ATRAVÉS DO E-MAIL: david.goncalves@uol.com.br OU 47 99747080/47 34251925.
CÂNDIDA - CONTO / TRECHO 2
"Era assim que Cândida andava: saltitando! Êta, moreninha espevitada! Olhar brejeiro, boca ...ah! que boca! Carnuda que só! Parecia que estava sempre pedindo beijo! E olha que não tinha quem não estivesse querendo dar! Os jovens reviravam os olhos e, na calada da noite, Cândida lhes fazia companhia! No pensamento deles é claro! Mas fazia, sim, senhor!Os velhos, estes ficavam satisfeitos de olhar e se lembrar de quando eram moços, contavam aventuras amorosas. Ah, se fossem moços! Essa moreninha não havia de escapar.
Cândida era moça séria, feita para casar. Filha de Juca Pescador e de dona Iracema sabia ler e sabia escrever! O pai fizera questão de que a filha aprendesse e para isso contou com a ajuda de Isabel, uma prima, que vinha passar as férias na pequena vila.
Isabel morava na capital e quando vinha, vinha cheia de conversas sobre a cidade grande: aventuras e divertimento!..."
ODENILDE N. MARTINS
CONTO SEM TÍTULO: TRECHO
"Vacilante, a mão alcança a aldrava. Com um rangido triste que ecoa, como um lamento doloroso, abre-se a porta. Por todos os lados, aranhas trabalharam incansavelmente tecendo teias de tamanhos variados e o cheiro de bolor entra pelas narinas feito agulhas finíssimas.
Aquele lugar era parte da história de Vivia que ela sequer se lembrava. Pertencera aos avós que não conhecera e, depois, a seus pais dos quais ela também não se lembrava. ..."
ODENILDE N. MARTINS
TRECHO DO CONTO "CÂNDIDA"
"De nome Cândida, a morena andava sempre saltitando como se tivesse molas nos pés. Sabia que os cachos de seus cabelos negros, saltitavam também. E mais! Sabia o quanto era provocante! Saltitava, ainda, o coração dos moçoilos da pequena vila de pescadores."
ODENILDE N. MARTINS
ODENILDE N. MARTINS
Crítica: 'Vida Querida' é a síntese da carreira da Nobel Alice Munro / CÍNTIA MOSCOVICH
Em 2012, ao lançar "Vida Querida", a escritora canadense Alice Munro disse a seu editor que o livro —chegado há pouco aos leitores brasileiros— seria o último de sua carreira. O Nobel de Literatura 2013, concedido em outubro passado, parece não ter feito com que, aos 82 anos, mudasse de planos: mesmo se não for seu canto do cisne, "Vida Querida" é a síntese de uma carreira de 14 livros e mais de quatro décadas de cuidadosa produção.
Trabalhando num terreno tenso, em que o oculto vale bem mais do que o revelado, Alice Munro apresenta 14 histórias nas quais a estrutura se sobrepõe ao enredo propriamente dito, característica que leva a frequentes comparações com Anton Tchékhov (que simplesmente cortava o início e o fim de suas narrativas a bem de aumentar a tensão).
Considerada mestre do conto contemporâneo, Alice Munro escreveu dois romances sem muita expressão. Ao receber o prêmio da Academia Sueca, afirmou que aquela era uma vitória do conto como gênero e pediu que não mais se tratasse a narrativa breve como "algo que as pessoas escrevem antes de escrever um romance".
Chad Hipolito/Associated Press
Alice Munro na casa da filha Jenny, em Victoria, Canadá
O que se observa nos contos de "Vida Querida" é, no entanto, que a autora continuou a abrir várias frentes narrativas, conflitos paralelos característicos das narrativas longas —fato que, no geral, só faz aumentar o estranhamento.
Hábil nos finais abertos, com desenlaces reticentes e vagos, como em "Que Chegue ao Japão" e "Amundsen", por exemplo, a autora parece ser solidária com seus personagens, retirando seus narradores polidamente de cena.
NA INTIMIDADE
Ambientando a maioria de seus enredos no meio rural, há momentos em que personagens e cenários se fundem na inocência da infância e logo se desvinculam de forma dolorosa, como em "Trem" e "Cascalho". Em "Com Vista para o Lago", a degeneração da memória é capaz, inclusive, de modificar a percepção do entorno.
A segunda parte do livro, intitulada "Finale", agrega textos que são autobiográficos. Munro escreve: "Eu acredito que essas narrativas são as primeiras e as últimas —e as mais íntimas— coisas que eu tenho a dizer sobre minha vida". No texto que dá título ao livro, ela se debruça sobre sua infância vivida em uma casa à margem do rio Huron, em Ontário, no Canadá.
A última reminiscência que ela concede é a de não ter comparecido ao funeral de sua mãe. Não há drama, pesar ou sentimento de culpa. Ela conclui: "Mas perdoamos —perdoamos o tempo todo".
FOLHA DE SÃO PAULO
CÍNTIA MOSCOVICHESPECIAL PARA A FOLHA18/01/2014 03h17
CÍNTIA MOSCOVICH é escritora, vencedora dos prêmios da Biblioteca Nacional e Portugal Telecom por seu livro "Essa Coisa Brilhante que É a Chuva" (Record).
*VIDA QUERIDA
AUTORA Alice Munro
TRADUÇÃO Caetano Waldrigues Galindo
EDITORA Companhia das Letras
QUINCAS BERRO D'ÁGUA - SÍNTESE
Em texto que serviu de prefácio para uma das inúmeras edições de A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, Vinicius de Moraes elege a obra como a melhor novela da literatura brasileira. Opinião ratificada por muitos críticos, que consideram esta a obra-prima de Jorge Amado.
O enredo trata do mistério da morte, ou das mortes, de Quincas Berro Dágua, um bêbado inveterado, rei da esbórnia, das mulatas e de todos os vagabundos da Bahia. Para desvendar esse mistério, ficamos sabendo que Quincas na verdade se chamava Joaquim Soares da Cunha, e até seus cinquenta anos era um respeitável e comedido funcionário da Mesa de Rendas Estadual.
Mas o que levou um cidadão exemplar, de boa família, a passar por tamanha transformação? Esta é a pergunta que paira sobre a leitura dessa novela e cuja resposta o autor vai tecendo com maestria, revelando ao poucos as peripécias do personagem que se prestou a abandonar a família e levar uma vida desregrada, à margem de todas as convenções sociais.
No desenrolar da história, um belo dia Quincas é encontrado morto na pocilga em que vivia e, avisada da morte, sua filha vê a oportunidade de resgatar o pai da vida indecente que levava, procurando com isso devolver a dignidade da família. Empenha-se então em promover um enterro digno ao morto, esperando com isso, pelo menos em memória, trazer de volta a real identidade do pai e cidadão de bem.
No entanto, o plano é frustrado com a chegada ao velório dos amigos mais íntimos de Quincas Berro Dágua, quatro cachaceiros como ele e que estão inconsoláveis com a morte do companheiro de tantas horas memoráveis. Assim, os amigos Curió, Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé de Vento acabam fazendo o morto beber cachaça e o levam para uma última esbórnia.
Segundo o relato do autor, o que se passou então é motivo de controvérsia e as dúvidas sobre a morte de Quincas até hoje geram certa confusão. Enquanto testemunhas do ocorrido narram detalhes absurdos, a família insiste na versão de uma morte tranquila e sem atropelos.
Seja qual for a interpretação que se queira dar ao desfecho da história, a verdade está com Vinicius de Moraes quando disse no prefácio da obra que saímos da leitura desta novela com uma sensação de bem-estar físico e espiritual como só dão os prazeres do copo e da mesa, quando se está com sede ou com fome, e os da cama quando se ama.
UOL EDUCAÇÃO
A FINALIDADE MAIOR DO ESCRITOR É TOCAR O CORAÇÃO OS OUTROS, MOSTRANDO O PRÓPRIO / HARDY
Tragédia em ficção
Antonio Olinto
Numa lista dos melhores romances de todos os tempos, feita há cerca de 50 anos na Europa, "Judas, o obscuro", de Thomas Hardy, ocupou o sexto lugar. A pergunta foi renovada, em Paris e em Londres no começo deste novo milênio, e "Judas" manteve sua posição. Listas e respostas a inquéritos não passam de opiniões, mas a escolha de Hardy como romancista merece atenção porque, ao ser publicado, em 1895, "Judas" foi classificado, por uma parte ponderável da crítica literária inglesa, como "lixo".
A mesma palavra foi usada, por resenhadores, para classificar outro romance de Hardy, "Tess of the Durbevilles". O romancista declarou então: "Se esse tratamento continuar, deixarei de escrever romances".
A partir de 1895 até morrer, em 1924, nunca mais produziu uma só obra de ficção, passando a se dedicar inteiramente à poesia, gênero em que foi autor de uma obra-prima, um poema de mais de 500 páginas chamado "The Dynasts", que apareceu com o seguinte subtítulo: "Um drama épico da guerra contra Napoleão".
A história de Judas é uma tragédia, elaborada num tom de manso desespero, em que as palavras se mostram normais, sem rompantes de som ou de significado, revelando um sofrimento que é tão entranhado nos personagens que o leitor o aceita como necessário à história que o narrador conta. Uma das características da verdadeira tragédia é que ela não provoca a piedade.
Produz, sim, um estado da admiração, de espanto, de compaixão diante de como pode a vida criar situações que ficam muito além da resistência humana. A tragédia não faz chorar. Chama-se tragédia o horror de Édipo descobrindo o que fizera; o de Agamenon condenando à morte a própria filha; o da posição de Hamlet na ânsia/ medo/ sentimento de culpa diante da obrigação de matar o rei, marido de sua mãe. A tragicidade de "Judas, o obscuro" é ligada a um desespero que vem de dentro dos personagens, que o sentem como parte intrínseca, visceral, de si mesmos.
Nasceu Thomas Hardy a 2 de julho de 1840, numa casa rústica de dois andares, coberta de palha, erguida por seu avô perto de Dorchester, no sudoeste da Inglaterra. Ao nascer, foi o menino Thomas declarado morto pelo médico, até que uma enfermeira descobriu que havia um leve sopro de respiração no corpo imóvel. Por causa disto e por ser tão frágil, não se esperava que vingasse. Mas vingou e foi Thomas Hardy.
Fez seus estudos normalmente, tendo começado a escrever muito cedo. Seus poemas de amor, para as duas mulheres que primeiro amou - sua prima Tryphena e sua mulher Emma - são considerados por muitos como dos melhores da literatura inglesa, que os tem em grande quantidade.
O tradutor brasileiro de "Judas, o obscuro" foi Otávio de Faria. Ninguém melhor. Se fôssemos procurar, na ficção brasileira, romancistas que pertencessem à linha hardyana, o primeiro nome que me viria à memória seria exatamente o do autor de "Tragédia burguesa", que incluiu, no título geral de sua obra, a palavra "tragédia".
Outros dois - Lúcio Cardoso e Adonias Filho - poderiam pertencer à mesma família de criadores de personagens que se mostram inapelavelmente indefesos diante dos golpes do Mal. Narrando a história de um Fracassado - com maiúscula e tudo - consegue Hardy retratar de que maneira o sofrimento humano penetra, insoluvelmente, nas atividades normais de uma pessoa, fazendo-o de um modo lancinantemente trágico.
Na orelha que escreveu para a edição brasileira, chama João Etienne Filho a atenção para a cena mais dramática da história que fez lembrar quase a fatalidade da tragédia grega, mas só "quase" porque a tragédia de Judas é profundamente cristã, acentuando que, "até na simbologia do nome, Judas Fawley teria de ser o desamado, o fustigado, o maldito".
A obra de ficção de Thomas Hardy conseguiu, também em seus outros romances, revelar alguns dos segredos da permanência humana sobre a terra, que se esperam da obra de arte. Seus livros - "Mayor of Casterbridge", "Far from the madding crowd", "The return of the Native" - estão entre os grandes romances do século XIX, sendo impossível que se esqueçam trechos dos livros de Hardy como a do cachorro enlouquecido que, ao invés de guiar e proteger os carneiros sob sua guarda, leva-os ao precipício e à morte, e a espantosa cena do marido que leiloa, em altos brados, a própria mulher, numa feira de aldeia.
A edição da Itatiaia de "Judas, o obscuro" torna possível seja mantida, em nosso meio literário, a presença de um dos grandes romances de qualquer tempo. Em "Judas", lembra-nos Thomas Hardy uma das funções primordiais de quem escreve, que ele mesmo definiu como sendo simplesmente esta: "A finalidade maior do escritor é tocar o coração dos outros, mostrando o próprio."
Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) 22/06/2004
THOMAS HARDY
O escritor retratado por Reginal Eves
Thomas Hardy passou a infância no campo. Começou sua vida profissional como arquiteto. Em 1862 mudou-se para Londres. Após publicar com êxito o seu primeiro romance, "Remédios Desesperados", em 1871, deixou de lado a arquitetura e passou a se dedicar integralmente à literatura.
Seus romances "Tess of the Urbervilles" (1891) e "Judas, o Obscuro" (1895) são considerados clássicos da literatura, mas na época de sua publicação receberam duras críticas, por serem considerados pessimistas e tocarem no assunto da sexualidade. "Tess" foi levada ao cinema em 1979, num filme dirigido por Roman Polansky, com Nastassja Kinski no papel principal.
O último romance de Thomas Hardy publicado em livro foi "A Bem-amada", em 1897 (que já havia saído, anteriormente, em fascículos).
Ele também publicou contos e acabou trocando a ficção pela poesia. Lançou "Poemas de Wessex" (1888), "Poemas do Passado e do Presente" (1901) e "Palavras de Inverno" (1928), tornando-se também um dos grandes poetas ingleses. O tom coloquial e isento de retórica de sua obra poética, que versava sobre a velhice, o amor e a morte, influiu na reação anti-romântica.
Hardy casou-se com Emma Lavinia Gifford em 1874. Após a morte da esposa, em 1912, casou-se com sua secretária Florence Dogdale, bem mais jovem do que ele.
Thomas Hardy morreu aos 87 anos, em 1928.
ÁLVARO DE CAMPOS / POEMAS
Álvaro de Campos
O FlorirO florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida ... O olhar de interesse da criança trazida pela mão Da mãe distraída... As palavras de episódio trocadas Com o viajante episódico Na episódica viagem ... Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados...
Caminho sem fim...
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação. Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado; Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa! Vou fazer as malas para o Definitivo, Organizar Álvaro de Campos, E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre... Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei. Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir... Produtos românticos, nós todos... E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada. Assim se faz a literatura... Santos Deuses, assim até se faz a vida! Os outros também são românticos, Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres, Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar, Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos, Os outros também são eu. Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente, Rodinha dentada na relojoaria da economia política, Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios, A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida... Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela, Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela, E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica. Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar, Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando, E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta, E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema... Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra... Sou Eu Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera, Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou. Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma. Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim. E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente, Como de um sonho formado sobre realidades mistas, De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico, Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima. E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda, De haver melhor em mim do que eu. Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa, Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, De haver falhado tudo como tropeçar no capacho, De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas, De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida. Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica, Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar, De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo — A impressão de pão com manteiga e brinquedos De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina, De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela, Num ver chover com som lá fora E não as lágrimas mortas de custar a engolir. Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado, O emissário sem carta nem credenciais, O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro, A quem tinem as campainhas da cabeça Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima. Sou eu mesmo, a charada sincopada Que ninguém da roda decifra nos serões de província. Sou eu mesmo, que remédio! ... |
Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.
Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...
Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?
TRECHO DE "SANGUE VERDE", NOVO ROMANCE DE DAVID GONÇALVES
"...
Os capangas bateram esporas, botas pairaram no ar. Por um momento, a terra tremeu. As esporas rodaram suspensas, trim-tlinn, trim-tlinn!, o coração da peonada, que fazia a grande cerca campo afora, parou como uma máquina enferrujada. Os que estendiam os rolos de arame farpado retesaram os músculos; os que fincavam os mourões pararam amedrontados. A voz alterada de Bambico se ouvia a quilômetros, fazendo os répteis se refugiarem em tocas. A faina diária prossegue suspensa, pejada de enigmas carregando a servidão nos costados. A figura de Bambico enche o pátio. O rei carrasco. Os cachorros, seus guardas. A carranca de rugas pula endemoniada sobre as artérias feito lagarto dissecado. O bigode trêmulo equilibra suspenso a cabeça quadrada outonal.
Os capangas estão voltando, trazem o boi malandro aos socavões. Não é boi, não: é Jovino suando frio no arrastão. Está fraco, mais parece um saco velho de estopa. Não há lágrimas em seus olhos. A cabeça está oca, uma cabaça seca. Alguém enfiara as mãos nela e retirara os miolos. A roupa de brim grosso já é trapo.
— Safado se trata com chicote de couro cru ou achava que, nesta fazenda, não há lei alguma? Pois saiba: eu sou a lei!
Os cachorrões esticam as orelhas; a voz embrutecida de Bambico se perde campo afora. Está vermelho, as artérias ameaçam explodir. Saliva tanto quanto os seus cachorros de raça.
— Perdeu a língua? Fala, bicho ladrão!"
Mexem as patas os cachorros, cada vez mais inquietos. Eles também querem avançar sobre Jovino. Esperam por um sinal.
SOCIOLOGIA, O QUE É?
A Sociologia é uma das Ciências Humanas que tem como objetos de estudo a sociedade, a sua organização social e os processos que interligam os indivíduos em grupos, instituições e associações. Enquanto a Psicologia estuda o indivíduo na sua singularidade, a Sociologia estuda os fenômenos sociais, compreendendo as diferentes formas de constituição das sociedades e suas culturas.
O termo Sociologia foi criado em 1838 (séc. XIX) por Auguste Comte, que pretendia unificar todos os estudos relativos ao homem — como a História, a Psicologia e a Economia. Mas foi com Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber que a Sociologia tomou corpo e seus fundamentos como ciência foram institucionalizados.
Augusto Comte
A Sociologia surgiu como disciplina no século XVIII, como resposta acadêmica para um desafio que estava surgindo: o início da sociedade moderna. Com a Revolução Industrial e posteriormente com a Revolução Francesa (1789), iniciou-se uma nova era no mundo, com as quedas das monarquias e a constituição dos Estados nacionais no Ocidente. A Sociologia surge então para compreender as novas formas das sociedades, suas estruturas e organizações.
A Sociologia tem a função de, ao mesmo tempo, observar os fenômenos que se repetem nas relações sociais – e assim formular explicações gerais ou teóricas sobre o fato social –, como também se preocupa com aqueles eventos únicos, como por exemplo, o surgimento do capitalismo ou do Estado Moderno, explicando seus significados e importância que esses eventos têm na vida dos cidadãos.
Como toda forma de conhecimento intitulada ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de pesquisa. O conhecimento sociológico, por meio dos seus conceitos, teorias e métodos, constituem um instrumento de compreensão da realidade social e de suas múltiplas redes ou relações sociais.
Os sociólogos estudam e pesquisam as estruturas da sociedade, como grupos étnicos (indígenas, aborígenes, ribeirinhos etc.), classes sociais (de trabalhadores, esportistas, empresários, políticos etc.), gênero (homem, mulher, criança), violência (crimes violentos ou não, trânsito, corrupção etc.), além de instituições como família, Estado, escola, religião etc.
Além de suas aplicações no planejamento social, na condução de programas de intervenção social e no planejamento de programas sociais e governamentais, o conhecimento sociológico é também um meio possível de aperfeiçoamento do conhecimento social, na medida em que auxilia os interessados a compreender mais claramente o comportamento dos grupos sociais, assim como a sociedade com um todo. Sendo uma disciplina humanística, a Sociologia é uma forma significativa de consciência social e de formação de espírito crítico.
A Sociologia nasce da própria sociedade, e por isso mesmo essa disciplina pode refletir interesses de alguma categoria social ou ser usado como função ideológica, contrariando o ideal de objetividade e neutralidade da ciência. Nesse sentido, se expõe o paradoxo das Ciências Sociais, que ao contrário das ciências da natureza (como a biologia, física, química etc.), as ciências da sociedade estão dentro do seu próprio objeto de estudo, pois todo conhecimento é um produto social. Se isso a priori é uma desvantagem para a Sociologia, num segundo momento percebemos que a Sociologia é a única ciência que pode ter a si mesma como objeto de indagação crítica.
Orson Camargo
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP
Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP